segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Bem-aventurados

Evangelho: Mateus (Mt 5, 1-12a)

Bem-aventurados os pobres em espírito

Naquele tempo, 1vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, 2e Jesus começou a ensiná-los: 3“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus. 4Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. 5Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra 6Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 7Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 9Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. 11Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. 12aAlegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus. Palavra da Salvação!

Contexto: Sermão da Montanha (Mt 5,1¾7,29). Leitura paralela: Lc 6, 20-26

Comentando o Evangelho

Bem-aventurados sois vós

No idioma em que Jesus proferiu esse belíssimo discurso, o termo comumente traduzido em português por “bem-aventurados” ou “felizes” é também um imperativo dos verbos “avançar”, “seguir adiante”, “prosseguir”, como aparece em Pr 4,14. Significa uma ordem de batalha em vez de um comodismo. Tampouco é uma utopia, mas trata-se de uma resposta de Deus a todos os que já são injustiçados, perseguidos, mansos e pacificadores. Significa que eles devem permanecer na luta, pois é certo que verão acontecer o Reino pelo qual eles sofrem tantas injúrias.

As palavras de Jesus também podem ser assim traduzidas: “Que avancem os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus!” Os “pobres em espírito” são aqueles cujas vidas estão apoiadas em Deus, não nos bens materiais. E, já que eles buscam a Deus em primeiro lugar, então sua luta não será em vão, mas alcançarão o que esperam, o reino dos céus.

Os “mansos” são aqueles que, embora atribulados, não agem com violência nem duvidam do amor de Deus por eles. Como não quiseram tiranizar ninguém, então herdarão a terra. Eles são o contrário dos tiranos, que querem conquistar a terra pela violência. E por isso vão usufruir de uma terra sem violência, como desejam. Os que têm “fome e sede de justiça” são todos os decepcionados com a justiça terrena, que não defende os inocentes e favorece os culpados.

Os que têm “fome e sede de justiça” esperam unicamente na justiça divina e não serão decepcionados. Eles alcançarão a vitória, viverão numa terra renovada, alicerçada na justiça.

Os misericordiosos agem como Deus age. Eles serão tratados por Deus com misericórdia. E viverão num novo mundo, onde a misericórdia e o amor superam todas as coisas.

Os “puros de coração” são as pessoas transparentes que não enganam, que não são falsas. Elas verão a Deus.

Os que “promovem a paz”, ou que produzem o shalom (que significa paz em sentido amplo, muito mais que ausência de guerras: prosperidade, bem, saúde, inteireza, segurança, integridade, harmonia e realização), serão chamados filhos de Deus, o verdadeiro doador da paz.

Os “perseguidos por causa da justiça” são os que sofrem perseguição por causa da fé, por causa do evangelho; sofrem pelo Reino e por isso o Reino será deles. Isto é, como tiveram participação ativa na construção do Reino, não serão decepcionados, mas verão o Reino acontecer.

Justiça é ajustar-se à vontade de Deus. No reino dos céus, a vontade de Deus é soberana; e que avancem as pessoas de boa vontade, verdadeiras promotoras dos valores do Reino na história. [Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj, Vida Pastoral n.276, Paulus]

A Palavra se faz oração (Missal Dominical)

A meta que Jesus no indica com o sermão das bem-aventuranças, antes de ser atingida por nossos esforços, é um dom que se obtém pela oração. Por isso, digamos: Senhor, escutai-nos.

-Pela santa Igreja de Deus, para que reconheça nas bem-aventuranças a sua única lei e as anuncie aos homens como mensagem de libertação e vitória, rezemos.

-Pelos pobres, os oprimidos, os que sofrem injustiça e perseguição, para que encontrem nos seguidores de Cristo irmãos que partilhem, por amor, sua sorte e lhes infundam a esperança de uma vida sem lágrimas, rezemos.

-Pela nossa comunidade, para que as deixe julgar pela palavra de Deus e tenham coragem de levá-la a sério, rezemos.

(Outras intenções)

Oração sobre as Oferendas:

Para vos servir, ó Deus, depositamos nossas oferendas em vosso altar; acolhei-as com bondade, a fim de que se tornem o sacramento da nossa salvação. Por Cristo, nosso Senhor.

Antífona da comunhão:

Mostrai serena a vossa face ao vosso servo e salvai-me pela vossa compaixão! (Sl 30,17-18)

Oração Depois da Comunhão:

Renovados pelo sacramento da nossa redenção, nós vos pedimos, ó Deus, que este alimento da salvação eterna nos faça progredir na verdadeira fé. Por Cristo, nosso Senhor!

Felizes os pobres

O evangelho das bem-aventuranças domina a liturgia da Palavra deste domingo. É a primeira parte do sermão da montanha.

Jesus. subindo ao monte nos aparece como o Novo Moisés, promulgador da nova Jei ("mas eu vos digo...!") no novo Sinai. Proclamando bem-aventurados os pobres e os humildes, Jesus fala a linguagem que Deus já havia usado com seu povo através dos profetas, como, por ex., Sofonias, que ouvimos na 1~ leitura. A mesma linguagem emprega são Paulo (2ª leitura): os primeiros a serem chamados são sempre os pequenos, os pobres, os que o mundo despreza, mas que são grandes no reino dos céus.

Um sermão revolucionário

Este sermão é verdadeiramente uma inversão dos valores tradicionais. Os hebreus cultivavam a convicção de que a prosperidade material, o su­cesso eram sinais da bênção de Deus, e a pobreza e a esterilidade, sinais de maldição. Jesus denuncia a ambiguidade de uma representação terrena da bem-aventurança. Agora, os bem-aventurados não são mais os ricos deste mundo, os saciados, os favorecidos, mas os que têm fome e choram, os pobres e perseguidos. É a nova lógica, a que Maria, a bem-aventurada por excelência, canta: "Derrubou os poderosos de seus tronos, elevou os humildes: cumulou de bens os famintos, despediu os ricos de mãos vazias" (Lc 1,52-53).

As nove bem-aventuranças de Mateus se resumem na primeira: "Bem-aventurados os pobres em espírito". As outras são corolário e explicitação desta. Reconhecer-se pobre, fraco, não é, porém, antes de tudo, condição social, mas uma disposição interior que toca todo o modo de agir, em qualquer situação em que se esteja. A pobreza, por si só, não é um bem nem uma situação de ascese. Mas ser rico significa ter poder, receber honras e ter uma posição superior à dos outros: aqui é que começa o perigo, porque onde há poder, riqueza e superioridade, há também, e com muita frequência, oprimidos, esmagados, desprezados. E é a estes que cabe o reino dos céus. Jesus se põe ao lado destes. São eles os eleitos. Jesus se apresenta como o mensageiro enviado por Deus para anunciar aos pobres a Boa-nova; sua solicitude pelos pobres, os infelizes, os doentes era o sinal da sua missão. Jesus leva aos deserdados não só a segurança de que um dia gozarão o reino de Deus, mas anuncia-lhes que este reino já chegou.

A missão de Jesus se estende, além dos pobres, a todas as misérias Físicas e espirituais; todos atraem sua compaixão. Inaugurando a era da salvação, Deus concede uma prioridade a todos os que dela têm necessidade mais urgente.

Pobreza e sociedade de consumo

Em mundo como o nosso, terá ainda sentido o sermão da montanha? Que sentido tem pronunciar este texto numa sociedade de consumo, que mede a felicidade e a bem-aventurança segundo as posses, o sucesso e o poder? E no Terceiro Mundo, subdesenvolvido e oprimido, que sentido tem repetir: "Bem-aventurados os pobres... bem-aventurados os perseguidos? Não ressoará como um ultraje à sua miséria, ou como uma tentativa de narcotizar ou abafar "a ira dos pobres"?

No entanto, não podemos anular esta bem-aventurança sem anular o Cristo. De fato, o primeiro pobre é ele, que, sendo rico se fez pobre por nós. Há, pois, nesta bem-aventurança um apelo a seguir Jesus, que não encontrou lugar na hospedaria, que não tinha uma pedra onde recostar a cabeça, que morreu pobre e despojado numa cruz. E o fez para se dar inteiramente aos outros.

A multidão que ouve e segue Jesus não se compõe de escribas, fariseus, levitas, sacerdotes do templo, poderosos guardiões da ordem. Mas segue Jesus a multidão anônima do povo miúdo, pescadores e pastores, gente explorada e oprimida pelos poderosos...

Pobreza como sinal distintivo das comunidades cristãs

A pobreza proclamada por Jesus não deve ser só característica de todo cristão, mas o distintivo e a bem-aventurança da Igreja e da comunidade como tal. Um dos momentos fortes da "conversão" a que o Concílio chamou a Igreja é a pobreza. Acaso não será devido a certa riqueza de meios, certo apego ao dinheiro e ao poder, na Igreja, que em muitos cristãos nasce uma sensação de mal-estar? Em nossas assembleias eucarísticas estão presentes hoje muitas pessoas que dispõem de recursos e de cultura. Eles nunca estarão dispensados de buscar os caminhos da pobreza e de servir seus irmãos indigentes, porque é nos pobres que se encontra, ainda e sempre, aquele que veio para salvar. [Missal Cotidiano, ©Paulus, 1995]

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