terça-feira, 12 de julho de 2011


As Parábolas do Reino dos céus

Dom Caetano Ferrari, Bispo de Bauru,SP

Jesus gostava de falar ao povo da Galileia usando parábolas. Ele era um comunicador extraordinário, de colocar no banco de reservas os melhores craques da comunicação de hoje. Em meio a um povo que vivia do cultivo da terra, plantando vinhas, trigais, olivais, e pastoreando animais (ovelhas, porcos), e da pesca no mar da Galiléia e no Jordão, o divino Mestre só se comunicava em parábolas magistralmente montadas a partir destes elementos da realidade social, para falar das coisas do Pai. Os profetas do passado, como Isaías, já previram que o Messias Salvador se comunicaria ao povo com parábolas. De acordo com Isaías, Ele falaria assim inclusive para confundir a muitos, segundo estas suas palavras: “Havereis de ouvir sem nada entender. Havereis de olhar sem nada ver”.

Lembrando esta profecia, Mateus diz no Evangelho de hoje - Mt 13,1-23 – que Jesus, embora falando a todos, só explicou o sentido das parábolas aos seus mais próximos, como por exemplo, os discípulos, conforme a resposta que Ele deu a eles sobre a pergunta do por que Ele fala ao povo em parábolas?: “Porque a vós foi dado o conhecimento dos mistérios do reino dos céus, mas a eles não é dado... É por isso que Eu lhes falo em parábolas, porque olhando não veem e, ouvindo, não escutam nem compreendem... Eles ouviram com má vontade e fecharam seus olhos, para não ver com os olhos, nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com o coração, de modo que se convertam e Eu os cure”.

No Evangelho deste domingo e dos próximos, ouviremos de Mateus a série de parábolas geniais inventadas por Jesus. No de hoje, temos a conhecidíssima parábola do Semeador que saiu a semear a semente, algumas caindo à beira da estrada, outras em terreno pedregoso, outras entre os espinhos, todas sem nada produzirem, e, por fim, outras caindo em terra boa, vindo cada semente a produzir na base de 100, 60 e 30.

E Jesus explicou o seu sentido somente aos discípulos: “Felizes sois vós porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem”. Quem ouve a palavra do reino e não a compreende, como a que foi semeada à beira do caminho e os pássaros a comeram, é o que a tem roubada de seu coração pelo maligno. Quem a acolhe com alegria, mas logo em seguida desiste da força de seu apelo em face de alguma provação ou sofrimento, é como a que caiu em terreno pedregoso que logo secou e morreu. Quem a recebe com satisfação, mas deixa que as preocupações do mundo e a ilusão da riqueza a sufoquem, é como a que brotou em meio aos espinhos e asfixiada definhou. Quem, contudo, a ouve e a compreende com todo o coração produz muito fruto, na base de 100, 60 e 30.

Nós bem sabemos que o dom da fé, esperança e caridade e da salvação é pura graça de Deus concedida a nós independentemente de nossos méritos. No dizer dos escolásticos: “Gratia gratis data” (graça dada gratuitamente). Explicando a parábola, Jesus deixa claro que o ouvir e o compreender a palavra tem o momento concomitante do acolher ou aceitar a palavra e o do corresponder ou do operar em favor dela. Isto é: do lidar com as tentações do maligno, com as provações do sofrimento e perseguições, com as preocupações do mundo e a ilusão das riquezas. Os escolásticos também diziam que a graça pressupõe o esforço humano e a natureza, não os prescindem, mas os plenificam: “Gratia praesupponit sibi naturam” (a graça pressupõe para si a natureza). Assim sendo, como toda graça é dom e empenho, pela parábola do semeador, Jesus nos pede acolher e compreender a palavra e operar, isto é, trabalhar em seu favor, contra dificuldades, preocupações e tentações. De acordo com o empenho de cada um é que cada semente da palavra produzirá na base de 100, 60 e 30.

Este ensinamento da teologia escolástica, o Pe. Kentenich, fundador da Obra Internacional de Schönstatt, o transformou numa singela, mas sábia oração: “Nada sem vós, nada sem nós!” Santo Inácio de Loyola, por sua vez, o expressou de outro modo: “No que tens a fazer, confia em Deus como se tudo dependesse dEle, mas aplica-te no fazer como se tudo dependesse de ti mesmo!”

“Quem tem ouvidos ouça!” [Fonte: CNBB]

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