sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA (21.02.09)
Lucas 4,1-13.
“Você adorará o Senhor seu Deus e somente a Ele servirá”

O texto expressa a luta interna de Jesus em discernir o caminho a seguir depois de assumir a sua missão no batismo. A experiência de Jesus é como a nossa - entre o nosso compromisso com o projeto de Deus e a prática d’Ele, existem muitas tentações!

Jesus estava “repleto do Espírito Santo”, e era “conduzido pelo Espírito através do deserto”. O Espírito Santo não o conduz à tentação, mas é a força sustentadora d’Ele, durante as suas tentações. Como o Espírito dava força a Jesus, Lucas ensina às suas comunidades que elas também poderão contar com este apoio nos momentos difíceis da vivência da sua fé!

As tentações são as mesmas que enfrentamos na nossa caminhada da fé hoje! Primeiro, Jesus é tentado para mandar que uma pedra se torne pão. Aqui é a tentação do “prazer” - logo que enfrenta sofrimento por causa da sua missão, Jesus é tentado a escapar dele! Uma tentação das mais comuns hoje, num mundo que prega a satisfação imediata dos nossos desejos, numa sociedade que cria necessidades falsas através de sofisticadas campanhas de propaganda. Uma sociedade de individualismo, onde a regra é “se quiser, faça!”, onde o sacrifício, a doação e a solidariedade são considerados como ladainha dos perdedores! Jesus é contundente: “Não só de pão vive o homem”. (v. 4). Vivemos de pão; mas, não só! Jesus não é contra o necessário para viver dignamente. Mas, salienta que não é somente a posse de bens que traz a felicidade, mas a busca de valores mais profundos, como a justiça, a partilha, a doação, a solidariedade com os sofredores. Não faz contraste falso entre bens materiais e espirituais - precisa-se de ambos para que se tenha a vida plena! Jesus desautoriza tanto os que buscam a sua felicidade na simples posse de bens, como os que dispensam a luta pelo pão de cada dia para todos!

A segunda tentação pode ser visto como a do “ter”. Algo atual! Vivemos na sociedade pós-moderna da globalização do mercado, do neo-liberalismo, do evangelho do mercado livre. Diariamente a televisão traz para dentro das nossas casas a mensagem de que é necessário “ter mais”, e que não importa “ser mais”! A tentação vem em forma atraente - até a Igreja pode cair na tentação de achar que a simples posse de bens, que podem ser usados em favor da missão, garantirá uma atuação mais evangélica. Somos tentados a não acreditar na força dos pobres, de não seguir o caminho do carpinteiro de Nazaré. Jesus também enfrentou esta tentação - Ele que veio para ser pobre com os pobres, para mostrar o Deus que opta preferencialmente pelos marginalizados, é tentado a confiar nas riquezas! Para o diabo - e para o nosso mundo que idolatra o bem-estar material e o lucro, mesmo às custas da justiça social - Jesus afirma: “Você adorará o Senhor seu Deus, e somente a ele servirá”(v. 8).

A terceira tentação podemos entender como a do “poder”. Uma tentação permanente na história das Igrejas e dos cristãos. Quantas vezes as Igrejas confiavam mais no poder secular do que na fragilidade da cruz, para “evangelizar”. Quanta aliança entre a cruz e a espada - a América Latina que diga! Ainda hoje enfrentamos esta tentação - não de ter poder para servir, mas de confiar no poder aparente deste mundo, mais do que na fraqueza aparente de Deus, assim contradizendo o que Paulo afirmava: “A fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1Cor 1, 25), e “Deus escolheu o que é fraqueza no mundo, para confundir o que é forte” (1Cor 1, 27). Jesus, que veio para servir e não para ser servido, que veio como o Servo de Javé e não como dominador, teve que clarear a sua vocação e despachar o diabo com a frase: “Não tentarás o Senhor seu Deus”. Realmente, podemos nos encontrar nas tentações de Jesus! São as do mundo moderno - o ter, o poder e o prazer! Todas coisas boas em si, mas, altamente destrutivas quando tomam o lugar de Deus em nossas vidas! Jesus teve que enfrentar o que nós enfrentamos - o “diabo” que está dentro de nós, o tentador que procura nos desviar da nossa vocação de discípulos. O texto nos coloca diante da orientação básica para quem quer vencer: “Você adorará o Senhor seu Deus, e somente a ele servirá” (v. 8)

Fonte: Tomas Hughes, SVD.
Pe. Tomaz Hughes é Missionário do Verbo Divino, Irlandês, Membro da Província SVD Brasil Sul.É coordenador do Apostolado Bíblico na Zona Panam e no Brasil. Reside em Curitiba/PR.
E-mail:
thughes@netpar.com.br
Revisão gráfica: Pe. Lourenço Mika CM

Nenhum comentário:

Postar um comentário