sábado, 20 de fevereiro de 2010

São Mateus






MATEUS:
UMA INTRODUÇÃO

Mateus é o primeiro Evangelho canônico. Ele é uma referência à esperança de Israel pois Jesus é o Filho de Abraão, Filho de Davi e isto já está claro no próprio título do texto: Registro do nascimento de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.

Jesus, José e Israel — A referência é o Povo de Israel. Neste passo inicial do Evangelho segundo Mateus José, o Justo, o Esposo de Maria, será o elo de ligação de Israel com Jesus. Se Jesus é Filho de Abraão e de Davi é através de José que é também “filho de Davi”, isto é, da descendência de Davi. É por isso que neste início do Evangelho a anunciação de Jesus é feita a José como lemos em Mateus 1, 20–25: Mas enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonho e disse: “José filho de Davi não tenhas medo de receber Maria, tua esposa, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus. É ele que salvará o povo de seus pecados”. Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta: Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamarão com o nome de Emanuel, que significa: Deus conosco. Quando acordou, José fez como o anjo do Senhor lhe tinha mandado e aceitou sua mulher. E não teve relações com ela até que ela deu à luz um filho, a quem ele pôs o nome de Jesus.

Dirigido aos Judeus — Mateus é dirigido aos judeus e para tanto lança mão de um grande número de citações de Profetas, interligando-as muitas vezes. Jesus é o cumpridor das Profecias e deve formar o “novo Israel”. A Lei, a história, a herança que Jesus recebe do povo Judeu não é negada, não é suprimida e sim, declaradamente cumprida: Não penseis que vim abolir a Lei ou os Profetas. Não vim abolir mas completar. E eu vos garanto: enquanto não passar o céu e a terra, não passará um i ou um pontinho da Lei, sem que tudo se cumpra (5, 17–18). Porém, Jesus, mesmo sem negar a Lei, supera-a de modo surpreendente: É o argumento do Ouvistes o que foi dito… Eu porém vos digo… Encontramos isto em Mateus 5, 33–34. 38–39. 43–45. Além disto as citações das profecias do Antigo Testamento são recorrentes. São aproximadamente 130 passagens onde ele é citado.

Autor e data de redação — Mateus deve ser datado de antes do ano 62. Em Mateus 27, 8 e 28, 15 é possível supor que passou um certo período de tempo entre a Páscoa e a redação do texto. Quanto à autoria de Mateus, como os outros Evangelhos não uma referência interna do autor. Em Mateus 9,9 encontra-se o convite de Jesus que chama um cobrador de impostos, Mateus para segui-lo: Partindo dali, Jesus viu um homem de nome Mateus, sentado junto ao balcão da coletoria e lhe disse: “Segue-me”. O homem levantou-se e o seguiu.

Episódio semelhante encontra-se em Marcos 2, 13–17 e Lucas 5, 27–32, porém aqui se encontra a menção de Levi. Em ambas as passagens a narração se amplia com um jantar na casa de Levi. A questão é: não seria isto uma ampliação feita pelos redatores de Marcos e Lucas e resumida em Mateus por ser ele o sujeito envolvido?

Um novo Pentateuco — Sendo dirigido aos cristãos de origem judaica alguns especialistas sugerem que o texto possa ser dividido em cinco partes, mais um prólogo, formando assim uma espécie de “Pentateuco evangélica”. Este é um tipo de divisão do texto: Cinco partes ou cinco livros, cada qual com duas seções: a primeira é uma narração, onde são apresentados feitos e fatos de Jesus ou sobre Jesus; a segunda é um discurso de Jesus a partir daquilo que foi narrado ou mesmo alguma novidade que Ele propõe em relação ao Reino. Na última parte ou último Livro encontram-se três partes, sendo a terceira o Mistério Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Podemos ver esta divisão do box à esquerda.

Prólogo: Origem de Jesus
1 — 2
Primeiro Livro: A justiça do Reino de Deus
3 — 7
Narração: O Reino chegou
3 — 4
Discurso: Sermão da montanha
7 — 8
Segundo Livro: A dinâmica do Reino de Deus
8 — 10
Narração: Sinais do Reino
8 — 9
Discurso: Missão dos discípulos
10
Terceiro Livro: O Mistério do Reino de Deus11,1 — 13,52
Narração: Oposição
11 — 12
Discurso: Parábolas do Reino
13,1–52
Quarto Livro: A Igreja, semente do Reino de Deus13,53 — 18,35
Narração: Seguir a Jesus13,53 — 17,27
Discurso: A vida da Igreja
18, 1–35
Quinto Livro: A vinda definitiva do Reino de Deus
19 — 28
Narração: O Reino de Deus
19 — 23
Discurso: O Filho do Homem
24 — 25
Paixão Morte e Ressurreição: Mistério Pascal
26 — 28

Um texto catequético — É forte a característica catequética de Mateus. As passagens são muito bem organizadas em função da pregação e mesmo da leitura. Parece também que os sumários são sempre bem colocados, fazendo a passagem geográfica ou psicológica de um texto ao outro. Os momentos catequéticos por excelência parecem ser:

A.
Sermão da montanha:
5 — 7
B.
O discurso comunitário:
9, 35 — 11, 1
C.
As Parábolas do Reino:
13
D.
Instruções aos Apóstolos:
19 — 20
E.
O apocalipse sinótico ou Discurso Escatológico:
24 — 25

Estes são os cinco discursos que identificam o texto de Mateus e dão-lhe uma índole interessante. A cada discurso corresponde uma narração, como foi visto atrás, formando assim um belo conjunto muito útil para a Catequese.

Jesus é o Messias de Israel para o mundo — Jesus é o descendente de Davi, o Novo Messias que assume a identidade mais humilde e misteriosa de Filho do Homem. É o Messias que vem salvar a Israel em primeiro lugar (Mateus 10, 5–6) mas que no final ordena que sua palavra seja levada até os extremos da terra. (Mateus 28, 19–20).

Enfim, o prestígio de Mateus na Igreja primitiva foi tão grande que ele ocupa, nos códices antigos, o primeiro lugar. Isto por uma questão de praticidade e uso: era, seguramente, o texto mais usado no ensino e na Catequese, inspirando até o Pai Nosso nas orações comunitárias e ligando Jesus à Esperança de Israel.

P. Mauro Negro, OSJ
Biblista
São Paulo (SP)

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