segunda-feira, 30 de maio de 2011

O Espírito da Verdade anima e sustenta a caminhada da comunidade


O trecho do evangelho de hoje faz parte do discurso de despedida (Jo 13-17). É o testamento que Jesus, antes de partir, deixa à sua comunidade. Os discípulos estão abalados diante do iminente desaparecimento de Jesus. Estão tristes porque o Mestre tinha dito que um deles o trairia e Pedro o negaria naquela mesma noite. Nosso texto apresenta dois temas importantes: o amor (vv. 15.21) e o Advogado, isto é, o Espírito Santo (vv. 16-20).

a. O amor a Jesus (vv. 15.21)


Jesus fala aos discípulos, mostrando que existe uma forma de superar o medo, a separação e a morte. Essa forma é o amor: 'Se vocês me amam, observarão os meus mandamentos' (v. 15). Tal afirmação pode parecer difícil para nós, pois se tem a impressão de que os mandamentos sejam uma espécie de freio ou limite à capacidade de amar. Quem ama não impõe! Contudo, é preciso compreender bem o que Jesus quer dizer quando fala de mandamentos. Pouco antes ele havia deixado à comunidade a regra de ouro, o segredo da felicidade: 'Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros' (13,34). Aí está a síntese dos mandamentos de Jesus. Vivendo no amor, a comunidade está amando a Jesus e observando seus mandamentos. Portanto, o critério para saber se os cristãos são de fato seguidores de Jesus é a capacidade de amor mútuo na comunidade e fora dela. O amor não pode ser vivido em circuito fechado, egoisticamente, mas projetado para fora, da mesma forma como agiu Jesus, que veio trazer a vida em plenitude para todos.


Se no v. 15 Jesus falava à comunidade como um todo, no v. 21 ele demonstra que amar é um compromisso pessoal indispensável: 'Aquele que tem os meus mandamentos e os observa, esse me ama' (v. 21a). Amar é ação que prolonga a ação de Jesus em favor de todos. É dar a vida, consumida inteiramente pela causa de Jesus. O Pai, que manifestou sua bondade em Jesus, devotará ao discípulo o mesmo amor que revelou no Filho. E o discípulo será a epifania de Deus neste mundo: 'Quem me ama será amado por meu Pai. Eu também o amarei e me manifestarei a ele' (v. 21b). No Antigo Testamento, Deus se manifestava em sinais. Hoje, manifesta-se no cristão que ama Jesus.



b. O Espírito da Verdade, Advogado dos cristãos (vv. 16-20)


Jesus fala do Espírito Santo e o apresenta como 'um outro Advogado' (v. 16). Advogado é aquele que defende uma causa nos tribunais. Depois da morte e ressurreição de Jesus, a comunidade encontrou-se diante do mundo hostil que a persegue e mata seus membros. Quem sustentará a luta de Jesus que se prolonga agora na vida dos cristãos? O defensor é o Espírito Santo, que permanece para sempre na vida da comunidade. Ele é chamado de Espírito da Verdade, isto é, aquele que estará presente em todas as ações dos cristãos em defesa da liberdade e da vida, como fez Jesus. É o Espírito de Jesus. Jesus é a Verdade (14,6; cf. o evangelho do domingo passado). O Espírito da Verdade é a memória da fidelidade de Jesus na vida da comunidade cristã. Esta não caminha em direção ao vazio e à derrota, porque o caminho de Jesus leva à vida. E o Espírito é a ação do Senhor atualizada na caminhada da comunidade.


A exemplo do Mestre, os cristãos enfrentam o mundo hostil, o mundo da mentira, que se opõe ao Espírito da Verdade. Enfrentam-no para transformá-lo. E a força para isso vem do Espírito (Advogado), que abre novos caminhos para a prática de Jesus no meio dos cristãos (cf. I e II leituras). O evangelho de hoje afirma que 'o mundo' (a sociedade injusta) não vê o Espírito da Verdade nem o experimenta (v. 17a) porque, para ele, o projeto de Deus fracassou na morte de Jesus. 'O mundo' não percebe que o amor de Deus e da comunidade é mais forte que a morte. A comunidade cristã, que vive no amor, experimenta a força do Espírito de Jesus, doador da vida. Esse Espírito já está presente nela, permanecendo para sempre (v. 17b).


Jesus havia anunciado aos discípulos que iria partir para o Pai (13,33). Essa afirmação deixara nos discípulos a sensação do abandono total, como os órfãos, sem proteção nem defesa. Jesus garante à comunidade que não a deixará no abandono e na orfandade, mas estará presente nela (v. 18). O mundo não mais verá Jesus, pois a sociedade injusta que o matou pensa ter tido a vitória definitiva. Mas Jesus é Vida. Nele a comunidade viverá e o verá (v. 19). Por que o mundo não o verá mais, mas somente a comunidade? Porque ele se manifesta no amor e no Espírito que faz os cristãos reviverem a experiência de Jesus. Vivendo a experiência do Espírito, Jesus viverá nos cristãos.


O Espírito, que procede do Pai (15,26) e que Jesus comunica aos discípulos, leva os cristãos ao reconhecimento de que Jesus e o Pai são uma só coisa (10,30). Em comunhão com esse Espírito, também os cristãos são uma só coisa com Cristo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário