segunda-feira, 30 de maio de 2011

O sofrimento por causa da justiça


Os vv. 13-14, apesar de não constarem no texto lido hoje, ajudam na compreensão do contexto. 'Quem lhes fará mal, se vocês se esforçam em fazer o bem? Se sofrem por causa da justiça, felizes de vocês! Não tenham medo deles, nem fiquem assustados'. Pedro escreve a cristãos que sofrem (cf. II leitura do domingo passado). Os sofrimentos daquelas comunidades da Ásia Menor tinham duas causas: em primeiro lugar, a situação social em que viviam – eram migrantes, trabalhadores, escravos; em segundo lugar, a luta que sustentavam – queriam que fosse feita justiça, que seus direitos e dignidade fossem reconhecidos. Por causa disso eram vistos como subversivos.


Pedro lhes diz que, se sofrem por causa da justiça, são felizes (v. 14). É a concretização da bem-aventurança anunciada por Jesus (cf. Mt 5,10). Não são bem-aventurados pelo sofrimento em si. O sofrimento não faz ninguém feliz! São bem-aventurados por causa da motivação profunda que anima sua luta: a justiça que visa criar o reino de Deus, o projeto de Deus.


Pedro anima as comunidades, dizendo-lhes que não devem ter medo dos que as consideram subversivas e arrastam seus membros aos tribunais. Pelo contrário, devem 'santificar em seus corações o Senhor Jesus Cristo', ou seja, reconhecer de coração (plena e absolutamente) que o único Senhor é Jesus! Essa motivação deve estar sempre presente e animar todas as esperanças e anseios das pessoas (v. 15).


Bons modos, respeito e consciência limpa são os instrumentos para a conquista da justiça (v. 16a), resposta que desarma a grosseria, a violência e a corrupção dos que fomentam a injustiça. Temos aqui o ideal da não-violência ativa (cf. Mt 5,38-40), capaz de fazer ruir a sociedade injusta (v. 16b).


A norma de comportamento cristão é a prática de Jesus (v. 18). O justo morreu pelos injustos, a fim de os conduzir a Deus. Contudo, a morte de Jesus não quer dizer que a injustiça tenha vencido. Pelo contrário, da morte nasceu a vida nova do Espírito Santo. Esse mesmo Espírito é que age agora nos fiéis, levando-os à prática de Jesus. Fazendo o que ele fez, os cristãos oferecem sua colaboração indispensável na construção do reino de Deus. Esse reino é o ideal proposto por Deus, que coincide com os profundos anseios da humanidade sedenta de justiça, liberdade e dignidade reconhecida.


O v. 17 não pretende atribuir a Deus a vontade de fazer sofrer as pessoas. De fato, ele não sente prazer no sofrimento humano. O próprio Jesus o demonstrou. O sofrimento diminui o ser de Deus presente nas pessoas. Contudo, o projeto de Deus sabe valorizar o sofrimento. Do sofrimento nasce o desejo de liberdade e vida. E Deus o transforma em energia que supera as injustiças que o provocam. [Vida Pastoral nº 253, Paulus, 2007]

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