quarta-feira, 25 de maio de 2011

Santa Maria Madalena de Pazzi, virgem, +1607

Santa Maria Madalena de Pazzi


Santa Maria Madalena, da ilustre casa dos Pazzi, nasceu em Florença, Itália, no dia 2 de Abril de 1566, e foi seu nome de baptismo Catarina. Pequenina, agarrava-se à mãe com extraordinário ardor nos dias em que esta voltava a casa, depois de ter comungado. Mas se ela não comungara, a filha não tinha as mesmas expansões. A mãe pergunta-lhe a razão. Resposta: a mãe «sabe-me» a Jesus.
Dir-se-ia que nasceu com amor ardente para com Jesus e ternura extrema para com a Santíssima Virgem. Deus favoreceu-a com o dom da oração, ainda antes de ter a idade para aprender a ler. Passava horas inteiras neste exercício, e quando lhe perguntavam o que fazia em seu oratório, respondia: «Peço a Deus me ensine o que é mister que eu saiba para Lhe agradar». Tinha apenas sete a oito anos, quando o padre Rossi, jesuíta, começou a ouvi-Ia de confissão. Foi necessário observá-Ia para lhe interromper os jejuns; toda a solicitude do director e da mãe não conseguia mais do que moderar-lhe as austeridades. O seu desejo, a sua virtude e a sua razão determinaram o confessor a permitir-lhe a comunhão na idade de dez anos. Não sabendo como mostrar-se reconhecida, resolveu consagrar a Deus a sua virgindade; fez voto, e desde então não se considerou senão como esposa sua.
Esta nova qualidade despertou-lhe novo desejo dos sommentos. Para se tomar agradável ao seu divino Esposo, começou desde a idade de doze anos a deitar-se no chão duro e a macerar o corpo com toda a sorte de austeridades.
A vida de Jesus Cristo na cruz inspirava-lhe cada dia alguma nova mortificação. Obteve da família licença de entrar, como pensionista, no mosteiro das religiosas de S. João, em Florença.
Teria passado noites inteiras no coro, se não se empregasse alguma severidade para de lá a arrancar. Tomou-se forçoso, no entanto, deixar ela tão doce intimidade, por ocasião do regresso de seus pais a Florença.
Tinha apenas quinze anos; a sua virtude - mais ainda do que a fortuna, nascimento ou beleza - tornava-a muito pretendida. Mas todas as solicitações se malograram; declarou aos pais que tinha feito voto de entrar em religião e de não ter nunca outro esposo além de Jesus Cristo. Seus pais eram muito virtuosos, e a sua vocação muito patente, para que pusessem obstáculos ao propósito.
Deixaram-lhe o convento à escolha; preferiu as carmelitas, porque todos os dias comungavam. Entrou no convento de Santa Maria dos Anjos no ano de 1582, tendo cerca de 16 anos e meio de idade. Depois dalguns dias de prova, viu-se novamente chamada pelos pais. Foram três meses de rudes combates que teve de sustentar; mas nada pôde abalar a sua resolução; tomou outra vez para o convento, onde deixou o nome de Catarina pelo de Madalena.
Por muito louvável que fosse o hábito, que tinha no mundo, de praticar grandes austeridades e passar muitas horas em oração, não deliberou um momento, quando foi necessário sujeitar-se à vida comum das noviças.
A devoção, a união íntima com Deus, a pontualidade e mortificação tomaram-na perfeita religiosa em menos de seis meses. Madalena suspirava todos os dias pelo momento em que havia de consumar o seu sacrificio; mas foi mister dilatá-Io, por causa duma enfermidade que a pôs às portas da morte. A sua profissão realizou-se enfim no dia da festa da Santíssima Trindade, com tal devoção e abrasada de tão ardente amor para com Deus, que durante muitas horas esteve arrebatada em êxtase.
Viam-na algumas vezes imóvel, os olhos elevados ao céu ou pregados em um crucifixo. Ouvia-se-Ihe dizer muitas vezes: «6 amor! 6 amor! Será possível que sejais conhecido, ó meu divino amor, e não sejais amado?» Algumas vezes, durante estes transportes de amor, corria toda a casa e as alamedas do jardim, com o rosto todo abrasado, dizendo: «Não terei descanso enquanto não encontrar Aquele que é o amado de minha alma. Eu vivo, exclamava outras vezes, eu vivo, mas não sou eu que vivo, é Jesus Cristo que vive em mim».
Parece que Nosso Senhor se comprazia em instruir Ele próprio esta alma pura, em suas íntimas comunicações. Tendo voltado um dia a si de um longo êxtase, o confessor e a superiora ordenaram-lhe que lhes dissesse o que Deus lhe tinha feito conhecer durante esse rapto e as instruções que lhe tinha dado; obedeceu: «o meu divino Mestre, disse, ordenou-me conservasse com cuidado e vigilância extrema a pureza do coração e a simplicidade; deu-me tão alta ideia do preço e do mérito da virgindade, que eu não poderia exprimi-Io por palavras». E acrescentou mais umas dez ordens recebidas do Céu.
Foi dizer um dia à superiora que o Senhor queria que se não nutrisse senão de pão e água. Não aprovando a superiora esta singularidade, ordenou-lhe que seguisse a vida comum; obedeceu sem réplica, mas foi-lhe impossível reter um só instante qualquer outro alimento e desde essa altura não teve outro, em todo o resto de seus dias.
Mas não foram estas mortificações o que teve de mais árduo a sofrer. Deus quis purificar a sua grande alma no fogo da tribulação e aumentar desta sorte o seu mérito. Entregue por espaço de cinco anos às mais violentas tentações e às mais rudes provas, viu-se como que sujeita a todo o furor dos demónios; debateu-se com um desgosto violento por todos os exercícios de piedade, uma insubordinação geral de todas as paixões, e algumas até muito humilhantes. A graça sustentava-a, mas não era sensível em tão triste estado. Viam-na algumas vezes, em extremos de desolação, correr aos oratórios que havia no convento, e derramando lágrimas abraçar estreitamente alguma estátua da Virgem Maria. Exclamava muitas vezes: "Non mori, sed palio" :Não morrer mas sofrer.
Velava noite e dia à cabeceira dos doentes, e prestava-Ihes os oficios mais humilhantes; o seu maior prazer era obedecer mesmo às irmãs não de coro em seus ofícios. Não é possível levar mais longe a caridade, a mortificação e a humildade, em tudo o que o fazia esta santa.
A calma sucedeu à tempestade; Jesus Cristo apareceu-lhe. Daqui por diante não houve mais do que transportes, do que excessos do amor divino: «Amar a Deus e aborrecermo-nos a nós mesmos» eis, dizia ela, em que consiste a perfeição.
Nunca houve freira que tivesse ideia mais levantada e mais justa da felicidade do estado religioso; dizia que, se bem compreendessem a felicidade deste estado, o mundo ficaria bem depressa deserto. O zelo da salvação das almas consumia-a; todos os dias orava e se penitenciava pela conversão dos pecadores; o tempo do Carnaval era para si a estação das lágrimas; eram dias de martírio.
Embora muito jovem ainda e sempre doente, foi encarregada dos principais oficios da casa; foi durante muito tempo directora das religiosas entradas ainda de pouco, e das noviças, e enfim escolhida por toda a comunidade para superiora. Deus favoreceu-a com os maiores dons sobrenaturais: foi dotada com a prerrogativa dos milagres e da profecia; e no momento em que S. Luís Gonzaga, da Companhia de Jesus, expirou em Roma, Santa Madalena viu durante um êxtase o sublime grau de glória a que fora elevado no céu.
As suas dores e enfermidades aumentavam todos os dias, e não se pode compreender como um corpo tão fraco e delicado podia resistir a tantos males. Enfim, esta vítima ditosa, consumida mais pelos ardores do fogo divino do que pelos sofrimentos, entregou o espírito ao Criador e foi gozar da alta recompensa que lhe estava preparada. Foi a 26 de Maio de 1607, tendo a idade de 41 anos, 25 dos quais passados no mosteiro.
Foi beatificada em 1626 e incluída no catálogo dos santos no ano de 1669.

Venha ser um frade carmelita descalço!


25 de Maio

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Nasceu no ano de 1566 em Florença, na Italia, e pertenceu a uma nobre família.

Ela muito cedo se viu chamada à vida religiosa e queria consagrar-se totalmente. Abandonou tudo: os bens e os projetos.

Entrou para a Ordem Carmelita e ali viveu por 25 anos. Uma aventura espiritual mística que resultou em uma grande obra com suas experiências carismáticas.

Todos os santos foram carismáticos. E a nossa Igreja é carismática, pois ela é marcada pelas manifestações do Espírito Santo. Precisamos aprender com os santos a sermos dóceis ao Espírito Santo.

Ela sofreu muito. Amou a cruz de cada dia.

Santa Maria sofreu com várias enfermidades até que entrou no Céu, com 41 anos. Seu lema foi: "Padecer, Senhor, e não morrer!"

Santa Maria Madalena de Pazzi, rogai por nós!

Santa Maria Madalena de Pazzi

Nasceu em Florença, Itália, em 1566, de uma família distinta e foi batizada com o nome de Catherine. Foi educada no Convento de São João em Florença. Foi compelida a casar-se pelo seu pai, mas recusou-se e, com a idade de 16 anos, entrou para a Ordem das Carmelitas Descalças no Convento de Santa Maria do Anjos, em Florença, em 1582. Quando recebeu o hábito, ela escolheu o nome de Maria Madalena.

Ocupou vários cargos no convento: era extremamente capaz e por algumas vezes tornou-se Madre Superiora. Seriamente doente, experimentou vários êxtases. Após recuperar a sua saúde, praticava extremas mortificações e experimentou anos de forte consolação espiritual. Suas irmãs copiavam o que ela dizia durante os êxtases e as Atas desses êxtases foram mais tarde publicados. Eles guardam o espirito da beleza de sua vida.

Maria Madalena encontrou sua vocação na reforma de todos os estados da vida da Igreja para a conversão de todos os homens. Acreditava que o sofrimento levaria a um profundo plano espiritual e ajudaria a salvar uma alma. Maria Madalena tem a reputação de ter tido o dom da profecia, ler as mentes e fazer várias curas milagrosas durante a sua vida. Morreu em 25 de maio de 1607.
Foi canonizada em 1669 pelo Papa Clemente IX.


Nasceu em Florença, Itália em 1566 de uma família distinta e foi batizada com o nome de Catherine. Foi educada no Convento de São João em Florença Ela foi compelida a casar-se pelo seu pai, mas recusou-se e com a idade de 16 anos ela entrou para a Ordem das Carmelitas Descalças no Convento de Santa Maria do Anjos, em Florença, em 1582. Quando ela recebeu o hábito ela escolheu o nome de Maria Madalena.
Ela ocupou vários cargos no convento e era extremamente capaz e eventualmente tornou-se a Madre Superiora. Seriamente doente, ela experimentou vários êxtases. Após recupera sua saúde ela praticava extrema mortificações e experimentou anos de forte consolação espiritual e suas irmãs copiavam o que ela dizia durante os êxtases e as Atas desses êxtases foram mais tarde publicados. Eles guardam o espirito da beleza de sua vida.
Maria Madalena encontrou sua vocação na reforma da de todos os estados da vida da Igreja para a conversão de todos os homens. Ela acreditava que o sofrimento levaria a um profundo plano espiritual e ajudaria a salvar uma alma. Maria Madalena tem a reputação de ter o dom da profecia, ler as mentes e fez varias curas milagrosas durante a sua vida. Morreu em 25 de maio de 1607.
Ela foi canonizada em 1669 pelo Papa Clemente IX.
Ela é mostrada na arte litúrgica da Igreja com os 1)Instrumentos da Paixão ajoelhada diante da Santa Trindade; 2)Cristo a coroando com três coroas de espinhos e a Virgem dando a ela rosas.
Ela é ainda é mostrada: 3) recebendo o Sagrado Sacramento de Jesus. 4)recebendo o véu branco da Virgem Maria 5)sendo presenteada com o anel por Jesus 6)coroada com espinhos e abraçando a cruz 7) com chamas saindo do seu peito.


MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI
POR OCASIÃO DO IV CENTENÁRIO DA MORTE
DE SANTA MARIA MADALENA DE'PAZZI (1566-1607)

Ao Venerado Irmão Senhor Cardeal ENNIO ANTONELLI
Arcebispo de Florença

Por ocasião do IV centenário da morte de Santa Maria Madalena "de' Pazzi", sinto-me feliz por me unir à amada Igreja florentina, que deseja recordar esta sua filha ilustre, particularmente querida por ser figura emblemática de um amor vivo que remete para a dimensão mística essencial de cada vida cristã. Enquanto saúdo Vossa Eminência com afecto, Senhor Cardeal, e toda a Comunidade diocesana, dou graças a Deus pelo dom desta Santa, que todas as gerações descobrem singularmente próxima ao saber comunicar um fervoroso amor a Cristo e à Igreja.
Tendo nascido em Florença a 2 de Abril de 1566 e baptizada na fonte do "bom São João" com o nome de Catarina, santa Maria Madalena "de' Pazzi" desde a juventude mostrou uma particular sensibilidade em relação ao sobrenatural e sentiu-se atraída pelo diálogo íntimo com Deus. Como era costume para as jovens de família nobre, a sua educação foi confiada às Damas de Malta, em cujo mosteiro recebeu a primeira comunhão a 25 de Março de 1576 e alguns dias depois entregou-se para sempre ao Senhor com uma promessa de virgindade. Regressando em família, aprofundou o caminho da oração com a ajuda dos Padres Jesuítas, que frequentavam o palácio.
Habilmente, conseguia não se deixar condicionar pelas exigências mundanas de um ambiente que, mesmo sendo cristão, não lhe era suficiente no seu desejo de se tornar mais semelhante ao seu Esposo crucificado. Neste contexto amadureceu a decisão de deixar o mundo e de entrar no Carmelo de Santa Maria dos Anjos, no Bairro São Fernando, onde a 30 de Janeiro de 1583 recebeu o hábito do Carmelo e o nome de irmã Maria Madalena. Tendo adoecido gravemente em Março de 1584, pediu para poder emitir a profissão antes do tempo e, a 27 de Maio, festa da Trindade, levada em coro numa maca, pronunciou para sempre diante do Senhor os seus votos de castidade, pobreza e obediência.
A partir daquele momento teve início uma intensa estação mística da qual derivou para a Santa a fama de grande extática. São cinco os manuscritos nos quais as Carmelitas de Santa Maria dos Anjos escreveram as experiências extraordinárias da sua jovem irmã de hábito. Seguem-se "Os quarenta Dias" do Verão de 1584, "Os Diálogos" da primeira metade do ano seguinte. O ápice do conhecimento místico que Deus concedeu de si à irmã Maria Madalena encontra-se em "Revelationi e Intelligentie", oito dias de maravilhosas êxtases que vão da vigília de Pentecostes à festa da Trindade do ano de 1585. Uma intensa experiência que, com apenas 19 anos de idade, a tornava capaz de abraçar todo o mistério da salvação, da encarnação do Verbo no sentido de Maria até à descida do Espírito Santo no Pentecostes. Seguiram-se cinco longos anos de purificação interior Maria Madalena de' Pazzi fala deles no livro da "Probatione" nos quais o Verbo seu Esposo lhe subtraiu o sentimento da graça e a deixou como Daniel na fossa dos leões, entre muitas provações e grandes tentações. É neste contexto que se insere o seu fervoroso compromisso pela renovação da Igreja, depois de ter visto, no Verão de 1586, clarões de luz do alto que lhe mostraram o verdadeiro estado em que ela se encontrava na época pós-tridentina.
Como Catarina de Sena, sentiu-se "forçada" a escrever algumas cartas para solicitar, junto do Papa, dos Cardeais da Cúria, do seu Arcebispo e de outras personalidades eclesiásticas, um decidido compromisso pela "Renovação da Igreja", como diz o título do manuscrito que as contém. Trata-se de doze cartas ditadas em êxtase, talvez nunca enviadas, mas que permanecem como testemunho da sua paixão pela Sponsa Verbi.

Com o Pentecostes de 1590 teve fim a dura provação. Isto permitiu-lhe dedicar-se com todas as energias ao serviço da comunidade e em particular à formação das noviças. A Irmã Maria Madalena teve o dom de viver a comunhão com Deus duma forma cada vez mais interiorizada, de modo a tornar-se uma referência para toda a comunidade, que ainda hoje continua a considerá-la como "mãe". O amor purificado, que pulsava no seu coração, abria-lhe o desejo da plena conformidade com Cristo, seu Esposo, até partilhar com ele o "despojado partir" da cruz. Os últimos três anos da sua vida foram para ela um verdadeiro calvário de sofrimentos. A tuberculose começou a manifestar-se claramente: a Irmã Maria Madalena vê-se obrigada a retirar-se lentamente da vida activa da comunidade para se imergir cada vez mais no "partir despojadamente por amor de Deus". Encontrou-se oprimida por sofrimentos atrozes no físico e no espírito que duraram até à morte, que aconteceu a 25 de Maio de 1607. Faleceu por volta das três da tarde, enquanto uma alegria inusual invadia todo o mosteiro.
Não tinham transcorrido vinte anos da sua morte que já o Pontífice florentico Urbano VIII a proclamava beata. Depois foi o Papa Clemente IX que a inscreveu no Álbum dos Santos a 28 de Abril de 1669. O seu corpo permaneceu incorrupto e é meta de constantes peregrinações. O mosteiro no qual a Santa viveu hoje é sede do Seminário arquiepiscopal de Florença, que a venera como Padroeira, e a cela na qual faleceu tornou-se uma capela em cujo silêncio se sente ainda a sua presença.
Santa Maria Madalena de' Pazzi permaneceu uma espiritual presença inspiradora para as Carmelitas de Antiga Observância. Nela elas vêem a "irmã" que percorreu inteiramente o caminho da união transformadora com Deus e que indica em Maria a "estrela" do caminho rumo à perfeição. Para todos esta grande Santa tem o dom de ser mestra de espiritualidade, particularmente para os sacerdotes, para com os quais sempre sentiu uma verdadeira paixão.
Desejo sentidamente que as presentes celebrações jubilares da sua morte contribuam para fazer conhecer cada vez mais esta luminosa figura, que a todos manifesta a dignidade e a beleza da vocação cristã. Como, enquanto ainda viva, agarrando-se aos sinos solicitava as suas irmãs com o grito: "Vinde amar o Amor!", a grande Mística de Florença, do seu Seminário, pelos mosteiros carmelitas que nela se inspiram, possa ainda hoje fazer ouvir a sua voz em toda a Igreja, difundindo o anúncio do amor de Deus por todas as criaturas humanas.
Com estes votos, confio-o, Venerado Irmão, e à Igreja florentina à celeste protecção de Santa Maria Madalena de' Pazzi e de coração concedo a todos uma especial Bênção Apostólica.

Vaticano, 29 de Abril de 2007.

BENEDICTUS PP. XVI

"Pelo abandono total, se faz morrer a si mesma em Deus, não deseja conhecê-lo, nem entendê-lo, nem experimentálo. Nada quer, nada sabe e nada deseja poder" - essa é a via do "amor morto" pregada pela santa.

Irmã Clara Isabel Morazzani Arráiz, EP

Ó Amor, que não sois conhecido nem amado, como estais ofendido!"... Estas misteriosas e sublimes palavras ecoavam pelos
muros do mosteiro carmelita de São Fridiano, em Florença, naquela tarde de inverno de 1584. Uma noviça de 18 anos as havia pronunciado com lábios trêmulos, o rosto inflamado e banhado em lágrimas.

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Santa Maria Madalena Pazzi

Surpresas, as irmãs não sabiam o que pensar: conheciam a piedade da sua jovem companheira, mas nunca a tinham visto nesse estado de exaltação, prestes a desmaiar. Tomaram--na nos braços, julgando-a acometida de súbita doença, e procuraram acalmá-la; mas, durante duas horas, ela parecia nada ver, nem ouvir, dominada tão somente por esta ideia: Deus é Amor, e não é amado! Tratava-se de Santa Maria Madalena de Pazzi.

"Flor de contradição"

Deus, Senhor da História, atende sempre às necessidades de cada era suscitando almas santas que - pelo exemplo pessoal, pela sua pregação e escritos, ou ainda pela abertura de uma nova via de perfeição - arrostam os erros de seu tempo, chamando as pessoas extraviadas para a conversão.

No quinquecento a península italiana se caracterizava por uma visualização antropológica do universo onde o homem - com seus valores e qualidades, mas também com suas deficiências - tomava o lugar principal. Para contrarrestar esse desvio, "toda a espiritualidade italiana do século XVI está impregnada pelo tema do amor total. Caminhos diversos unem-se no anseio comum do amor teocêntrico, que parece brotar como flor de contradição do tronco do humanismo renascentista".1

Nesse contexto, nascia na cidade de Florença, berço e âmago da Renascença italiana, em um suntuoso palácio situado ao sul do histórico duomo, na esquina da Via del Proconsolo com o Borgo degli Albizi, em 2 de abril de 1566 Catarina de Pazzi, filha única de Camillo di Geri de' Pazzi e de Maria Lourenço Buondelmonti, ambos de ilustres famílias da República.

Seus pais educaram com esmero a menina de rara beleza, e nela depositavam as esperanças de um futuro brilhante na vida social, na qual poderia sobressair-se graças a seus dotes naturais e ao parentesco do pai com a prestigiosa casa dos Médici.
Catarina, de fato, estava destinada a reluzir nos céus da História, mas não precisamente segundo as ilusões de seus progenitores.

"Sinto o perfume de Jesus!"

Desde a infância, Catarina deu mostras de ser uma alma eleita. Quando pequena, encontrava maior prazer no silêncio, na oração e nas práticas de piedade do que nas brincadeiras próprias à idade, e era para ela a recreação mais agradável ensinar o Credo, o Pai Nosso e a Ave-Maria às crianças camponesas. Dotada de grande força de vontade e de um temperamento ardoroso e veemente oriundo de seu sangue toscano, mostrava-se, no entanto, sempre obediente e afável com seus pais e superiores.

Antes mesmo de completar a idade requerida naqueles tempos para receber a Eucaristia, nutria ela excepcional devoção ao Santíssimo Sacramento. Certa vez, sua mãe, intrigada com as atitudes da filha, interrogou-a sobre a razão pela qual passava alguns dias inteiros a seu lado, sem separar-se sequer por um instante. Respondeu com candura a pequena: "É que nos dias em que comungais, sinto em vós o perfume de Jesus!".2

Considerando o fervor e a maturidade da menina, seu confessor consentiu em abrir uma exceção, concedendo-lhe fazer a Primeira Comunhão em 25 de março de 1576, quando contava apenas 10 anos. A consolação e o gozo de Catarina não conheceram limites. E, tendo uma vez degustado o Pão dos Anjos, cresceu ainda mais em sua alma a piedade eucarística, conforme a frase da Escritura: "Os que comem de mim terão ainda fome" (Eclo 24, 29). Deste modo, obteve autorização de comungar todos os domingos, para o que ela contava os dias e até mesmo as horas.

Adeus ao mundo e obediência à vontade de Deus

Três semanas após sua Primeira Comunhão, na Quinta-Feira Santa, estando recolhida durante a ação de graças, Catarina sentiu-se movida pelo amor divino a prometer a Deus proceder de forma a agradá-Lo em tudo. Fez, então, o voto de virgindade perpétua, voltando definitivamente as costas ao risonho porvir oferecido pelo mundo, decidida a viver só para Deus e em Deus, para sempre.

Não pensavam seus progenitores do mesmo modo e, apenas completou os 16 anos, manifestaram o desejo de vê-la contrair matrimônio. Assim, para não pôr em risco a consagração feita a Deus, a jovem optou por declarar abertamente ao pai que preferia ter a cabeça cortada, a renunciar a seu voto e ao estado religioso pelo qual almejava. Estupefato diante de tanta determinação, Camilo de Pazzi cedeu, sem opor mais objeções.

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Catarina nasceu em um suntuoso palácio da
cidade de Florença, berço e âmago da
Renascença italiana

Fachada do Palácio Pazzi

Sua esposa, entretanto, não se rendeu com a mesma facilidade. Apegada à filha por uma afeição puramente natural, Maria Buondelmonti empregou todos os meios ao seu alcance para desviá-la da vocação religiosa. Julgava, talvez, ser mera fantasia de adolescente que não tardaria a esvanecer-se à vista de um futuro atraente.

Mas Catarina longe de abandonar seu propósito, fê-lo crescer em seu coração, acrisolado pela espera e pela prova. Ao cabo de alguns meses, a Senhora de Pazzi teve de se declarar derrotada.

Oceano de consolações

Vencida a batalha e obtida a permissão para abraçar a vida religiosa, Catarina escolheu o convento das carmelitas de Santa Maria dos Anjos, no bairro de São Fridiano, pela simples razão de terem essas religiosas a prática da Comunhão diária. Após ter passado nele quinze dias a título experiência, foi aceita de forma definitiva em 1º de dezembro de 1582, recebendo, dois meses depois, o hábito de noviça e o nome de Maria Madalena, por sua especial devoção a essa santa.

Uma nova dimensão de vida iniciava-se para a jovem religiosa: de um lado, o Senhor ia lhe conceder o tesouro de suas consolações, para torná-la um apóstolo de seu amor entre os homens; de outro - e como consequência desse mesmo amor -, pedir-lhe-ia uma participação nos sofrimentos da sua Paixão, oferecendo-os em reparação pelos males de sua época e pela salvação dos pecadores.

Os dois primeiros anos passados em São Fridiano foram para ela de uma contínua consolação. Sentia-se arrebatada ao contemplar o amor de Deus pelos homens e compreender, também, o horror e a malícia do pecado, e a ingratidão dos que o cometem. Contudo, passado algum tempo, uma misteriosa doença a acometeu, obrigando-a, durante três meses, a guardar o leito. Nessas condições fez sua profissão religiosa, em 27 de maio de 1584.

A partir desse dia, os êxtases passaram a ser contínuos, sobretudo de manhã, após receber a Comunhão. "A vista de uma flor, de uma planta, o santo nome de Jesus ou simplesmente a palavra amor pronunciada diante dela era suficiente para arrebatá-la em Deus".3

"Não sabia se estava viva ou morta, fora do meu corpo ou dentro", relatou mais tarde a jovem carmelita, descrevendo esses místicos arroubos. "Mas via Deus só, glorioso em Si mesmo, amando-Se a Si mesmo, conhecendo-Se intimamente e compreendendo-Se infinitamente; amando as criaturas com um amor puro e infinito; e na união única e indivisível, um só Deus subsistente, de amor infinito, de soberana bondade, incompreensível, imperscrutável".4

Na Quaresma de 1585, os fenômenos extraordinários chegaram a um auge de intensidade. No dia 25 de março, sentiu gravadas em seu peito as palavras "Et Verbum caro factum est". Na segunda-feira da Semana Santa, recebeu os sagrados estigmas de Cristo, contudo não de forma visível.

Na Quinta-Feira Santa, Irmã Maria Madalena entrou num êxtase que durou vinte e seis horas. Ao longo de todo o período no qual se comemora a Paixão do Divino Redentor, ela sentiu em si, fisicamente, as mesmas dores, as mesmas angústias, os mesmos tormentos de Jesus. Surpresas e maravilhadas, as demais religiosas puderam contemplá-la percorrendo as diversasdependências do mosteiro, ora acompanhando o Divino Mestre em sua agonia, ora em seu julgamento, ora ainda na dolorosa coroação de espinhos. Por fim, viram-na entrar, com uma cruz aos ombros, na sala do Capítulo onde estendeu-se no chão para ser pregada no madeiro, depois recostou-se na parede e, de braços abertos, repetiu as sete últimas palavras do Crucificado.

Alguns dias depois, foi-lhe dado assistir à descida de Cristo aos infernos, à sua Ressurreição e, finalmente, à sua gloriosa Ascensão.

Seguindo as pegadas do Varão das dores

A essas graças tão insignes haveria de seguir-se uma era de grandes provações e lutas. Antes, porém, o próprio Jesus Se dignou anunciar- -lhe esse doloroso período, de maneira a dar-lhe oportunidade de pronunciar seu Fiat e uni-la cada vez mais ao Cristo obediente e sofredor. Ela, em sua simplicidade e confiança, limitou-se a responder: "Senhor, basta-me a vossa graça!".5

De um momento para outro, sentiu-se mergulhada nas trevas do espírito - verdadeira "jaula de leões", segundo sua própria expressão -, das quais se aproveitou o inimigo infernal para atentar contra o castelo de suas virtudes.

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Vista geral de Florença com o "duomo" em destaque

A terrível prova iniciou-se na Solenidade da Santíssima Trindade de 1585. Irmã Maria Madalena perdeu completamente o gosto pela oração e por qualquer exercício de piedade; experimentou tentações contra a pureza, contra a fé, contra a humildade e até contra a temperança no comer; o espírito maligno sugeriu-lhe pensamentos de blasfêmia e de desespero, a ponto de inspirar-lhe a ideia de abandonar o hábito religioso e fugir da comunidade.

Em outras ocasiões, demônios lhe apareciam corporalmente e lançavam- se sobre ela para espancá-la durante horas. A tantas tribulações, veio juntar-se mais uma amargura: várias de suas irmãs, não compreendendo suas atitudes, criticavam-na, acusando-a de faltas imaginárias.

Cinco longos anos se passaram em meio a tais lutas, entremeadas de curtas intermitências de consolação. Por fim, no dia de Pentecostes de 1590, entrou ela em êxtase durante o cântico das Matinas e sentiu- -se libertada. O demônio não pudera triunfar sobre essa alma. Apareceram-lhe, então, de uma só vez, os catorze santos de sua especial devoção, congratulando-se com ela pela vitória alcançada.

A espiritualidade do amor total

Na trajetória desta santa carmelita, chamam poderosamente a atenção os padecimentos que acabamos de descrever, bem como seus contínuos êxtases, sua virtuosa atuação como mestra de noviças e subpriora, e os grandes milagres por ela operados em vida, como a cura de muitos doentes e a multiplicação de alimentos no mosteiro.

Durante cerca de vinte anos suas irmãs de hábito do Convento de São Fridiano recolheram cuidadosamente as palavras brotadas de seus lábios "com tal abundância, que uma só pessoa não seria suficiente para escrever tudo quanto o Espírito Santo lhe dizia". 6 Tornou-se necessário, então, escalar seis religiosas para tal serviço, de maneira a não perder as preciosas revelações pronunciadas por ela, quando era arrebatada. Tais anotações resultaram em numerosas obras de profundo conteúdo teológico e místico.

Elevada de tal maneira aos panoramas sobrenaturais, sua alma entrevia os mistérios de Deus e dialogava com as Três Divinas Pessoas, segundo narra um de seus confessores, padre Virgilio Cepari: "Quando falava o nome do Pai eterno, dava à sua voz um timbre grave e majestoso, e a seu discurso uma dignidade incomparável. Quando pronunciava o nome do Verbo ou do Espírito Santo, mesclava não sei que doçuras à gravidade e majestade de sua palavra. Enfim, quando falava em seu próprio nome, sua voz era mais baixa e suas palavras mais delicadamente articuladas, e tornava-se patente que, no sentimento de sua própria humildade, ela queria aniquilar-se diante de Deus".7

Igreja do Carmo - Itu_.jpg
Santa Teresa de Jesus e Santa Maria Madalena de
Pazzi veneram Nossa Senhora, junto
com os profetas Eliseu e Elias


Pintura do Teto da Igreja do Carmo em Itu (SP)

A espiritualidade de Santa Maria Madalena de Pazzi centrava-se no que ela chama de "amor morto". Último degrau na escala da perfeição por ela mesma descrita, a alma que o possui "não deseja, não quer, não anseia e não procura coisa alguma. [...] Pelo abandono total, se faz morrer a si mesma em Deus, não deseja conhecê- lo, nem entendê-lo, nem experimentá-lo. Nada quer, nada sabe e nada deseja poder. [...] O pesar não é pesar para ela e não busca a glória, mas vive em tudo como morta".8

Consumação do amor

Este amor traduzia-se numa sede insaciável de salvar os pecadores e conquistar almas para o Céu. Do interior de seu convento, Maria Madalena sofria terrivelmente ao receber notícias do progresso das heresias e da grande influência exercida por estas na sociedade. Seu ardor pela conversão dos inimigos da Igreja a levava a desejar permanecer na Terra por longo tempo, a fim de trabalhar e mortificar-se mais e mais nessa intenção: "Sempre sofrer, jamais morrer!", exclamava com frequência.

Jesus, porém, e sua Mãe Santíssima não tardaram em chamar a Si esta filha predileta, para conceder-lhe, por fim, a posse plena da união de amor, da qual ela já experimentara aqui na Terra um antegozo. Os últimos anos de sua vida transcorreram sem consolações místicas, segundo seu próprio pedido, em meio aos padecimentos inerentes à doença que lhe abreviou os dias: tosse, febres, hemorragias, dores de cabeça. Por fim, em 25 de maio de 1607, aos 41 anos entregou sua bela alma a Deus, após ter recebido o Santo Viático na véspera, e ter feito um solene pedido de perdão de suas faltas a toda a comunidade

Sua luminosa trajetória e sua mensagem para a posteridade podem ser resumidas nestas palavras, exaladas de seu amoroso coração: "Sem Ti não posso viver nem estar alegre. [...] Se me desses toda a felicidade que se pode ter na Terra, com todos os seus prazeres; se me desses toda a fortaleza de todos os fortes, a sabedoria de todos os sábios e as graças e virtudes de todas as criaturas, sem Ti eu, o estimaria como um inferno. E se me desses o próprio inferno com todas as suas penas e tormentos, mas contigo, eu o consideraria um paraíso".9

Notas:

1 YUBERO, Alberto. Introducción. In: SANTA MARIA MAGDALENA DE PAZZI. Éxtasis, amor y renovación. Revelaciones e Inteligencias. Renovación de la Iglesia. Madrid: BAC, 1999, p.XX.
2 VETTARD, Th. Sainte Marie-Madeleine Pazzi. In: Un Saint pour chaque jour du mois. Paris: Maison de la Bonne Presse, 1932, t.V, p.226.
3 CEPARI, Virgile. Vie de la Sainte, apud BRANCACCIO, Laurent- Marie. Introduccion. In: SANTA MARIA MAGDALENA DE PAZZI. Oeuvres. Paris: Victor Palmé, 1837, t.I, p.XIII.
4 SANTA MARIA MAGDALENA DE PAZZI, Vita, c.II, n.22, apud ROHRBACHER. Vidas dos Santos. São Paulo: Américas, 1960, v.IX, p.245.
5 VETTARD, op. cit., p.230.
6 CEPARI, op. cit., p.XIV.
7 Idem, ibidem.
8 SANTA MARIA MAGDALENA DE PAZZI, Revelaciones e Inteligencias. In: Éxtasis, amor y renovación, op. cit., p.158-159.
9 ROYO MARÍN, OP, Antonio. Los grandes maestros de la vida espiritual. Madrid: BAC, 2002, p.319.

(Revista Arautos do Evangelho, Maio/2011, n. 113, p. 32 à 35)


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