segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Meditação:
Depois do relato da tempestade acalmada, que lemos sábado passado, são Marcos nos apresenta o episódio da libertação de um pobre endemoninhado, na outra margem do lago de Genesaré ou mar da Galiléia, a margem oriental, na qual freqüentemente Jesus passou com seus discípulos. Território de pagãos, ali se levantavam a maioria das cidades da Decápole, que gozavam de um estatuto especial dentro da participação administrativa do império romano. Gerasa era uma das tais cidades; por isso Marcos nos fala da “região dos gerasenos”.

O Evangelho de Marcos nos ajuda a refletir sobre a deficiência e ainda nos apresenta muitas situações com as quais o próprio Jesus se confrontou no dia a dia de sua missão. E o que mais nos chama atenção, é que Ele não excluiu ninguém. Muito pelo contrário, ajudou a todos, e de uma forma bem clara. Todos aqueles aos quais Jesus ajudou tiveram iniciativa própria, ou seja, a cura sempre partiu das pessoas necessitadas e/ou deficientes. Era a própria fé das pessoas que os salvava, quando se tratava de certo tipo de deficiência.

O que nós vemos no Evangelho de Marcos, é que Jesus encontrou as mais variadas situações, sendo que, com a ajuda das próprias pessoas, resolveu todas as situações.
Marcos nos apresenta um Jesus “exorcista”, onde na sua caminhada, numa ocasião em que estava na sinagoga em Cafarnaum, encontrou “um homem possuído de um espírito impuro”, (cf. Mc 1,23), o qual foi expulso com muita autoridade por Jesus,. Por sua vez, todos os espíritos impuros reconheciam em Jesus alguém mais poderoso do que eles mesmos, quando diziam: “Tu és o Filho de Deus!” (cf. Mc 3,11b).

Assim nós encontramos vários outros trechos no Evangelho de Marcos que relatam momentos de “exorcismo”, feitos por Jesus. Inclusive, quando chama os doze apóstolos, dá a eles autoridade para expulsar os demônios. (cf. Mc 3,13-19).

Na verdade, Marcos nos apresenta um Jesus que quer ver todas as pessoas livres, desimpedidas e sem sofrimento. Para isso acontecer, Jesus se confrontou com situações de sofrimento terrível. Prova disto é o texto de Marcos 5,1-20, onde Jesus se encontrou com um homem possesso de um espírito impuro, e que o fazia sofrer muito.

Todos estes, possuídos pelo “demônio” ou “espíritos impuros”, de uma certa forma estavam fora de um ambiente social, ou seja, excluídos. Aí vem a pessoa do próprio Jesus que se compadece com a situação dessas pessoas e os livra do mal que lhes impede de estar no meio do povo.
O mais interessante que podemos perceber no Evangelho de Marcos é a questão dos milagres que acontecem. Foi, na maioria das vezes, não por iniciativa de Jesus, mas das próprias pessoas que sofrem, ou de pessoas próximas e solidárias das pessoas que sofrem, como amigos, parentes ou familiares mais próximos que convivem com essas situações.

Ninguém quer ver alguém sofrendo, quando se tem amor pela vida, e vida plena sobretudo.
Jesus não abandona ninguém, por mais difícil que seja a sua situação. Porém, é importante percebermos que Ele não olhava só para as necessidades físicas das pessoas, o que talvez seja conseqüência de outras necessidades. Os seus milagres não foram só de curas de enfermidades, mas de multiplicação de alimentos para grandes multidões, como é o caso relatado em Marcos 6,30-44, que é na verdade a primeira multiplicação de pão que Jesus fez. Isto porque teve compaixão de tanta gente que tinham n’Ele, talvez, a única esperança. Esta situação nos faz pensar na seguinte questão: as autoridades não se importavam com a situação do povo?
Precisamos hoje nos perguntar: o povo continua tendo fome de pão? Com certeza fome de pão e necessidade de ser reconhecido como cidadão, tendo acesso aos locais públicos, com direitos iguais para todos, e direitos não só na teoria, mas na prática também. Para isso não é preciso fazer milagres como Jesus fazia. Talvez a nossa fé seja tão pequena que nem isso conseguimos fazer. Então devemos partir mais para o lado prático. Dar espaço e acesso às pessoas com deficiências, e que são tantas nos dias de hoje. Precisamos nos sensibilizar com estas pessoas, pois, se temos olhos e não vemos as necessidades do povo, não estamos sendo coerentes com o que o Evangelho de Marcos nos apresenta.
Jesus, no seu tempo, fazia o possível para que todos tivessem vida digna, ainda mais, quando com muita fé as pessoas O procurassem para resolver seus problemas de deficiência, ou necessidades especiais, como quisermos entender ou interpretar melhor.
Este demônio que estava presente no tempo de Jesus, maltratando as pessoas, muitas vezes está presente nos dias de hoje, onde encontramos pessoas desorientadas e enganadas por falsas promessas, ou até no comodismo e na falta de solidariedade e caridade para com as pessoas necessitadas ou deficientes. E talvez a única coisa que resta para estas pessoas necessitadas, e que faz com que elas ainda lutem, é a fé numa vida melhor.
Quando Jesus disse: “Levanta-te e vem para o meio” (cf. Mc 3,3), Ele sabia que era alguém que estava excluído e tinha duas necessidades especiais, ou seja, a primeira era uma deficiência, a mão atrofiada, que é a necessidade mais clara que aparece no texto, mas também a da exclusão, talvez como conseqüência da primeira situação. Por isso que Jesus o chama: “Levanta-te e vem para o meio”, que quer dizer: participe da vida da comunidade, do nosso grupo de amigos, viva conosco, porque você, meu amigo, minha amiga, é tão digno e digna de viver como qualquer um de nós.
Façamos acontecer esta atitude de Jesus também em nossa vida e em nossas comunidades, para melhor podermos viver a ressurreição do próprio Jesus no próximo, no deficiente e necessitado, os excluídos de hoje.
Reflexão Apostólica:
Jesus veio ao mundo para salvar o homem do pecado e da morte eterna. No entanto, o homem muitas vezes continua refém e escravo das artimanhas do espírito do mal.

Assim como aquele endemoninhado que vivia no “meio dos túmulos” muitos de nós ainda nos deixamos escravizar e insistimos em viver a cultura da morte. Não reconhecemos a Deus como nosso Pai e provedor persistimos em lutar com armas que, ao invés de nos libertar são como algemas e correntes que nos prendem à mesma situação durante muito tempo da nossa vida.

Porém, o Pai não quer que se perca nenhum filho Seu, por isso, ainda hoje Jesus Cristo vem a nós a fim de nos libertar dos “espíritos maus” que nos perseguem. Jesus expulsou para longe os carcereiros que atormentavam aquele homem da região dos gerasenos e recomendou-lhe que fosse para casa, para junto dos seus. Assim também Ele quer fazer conosco.

Conhecemos muitas misérias iguais ou piores que as do endemoninhado de Gerasa. É comovente o desenvolvimento do relato: o endemoninhado queria ir com Jesus, porém ele não permite, mandando-o antes testemunhar entre os seus, os pagãos, a misericórdia de Deus que havia experimentado e que pode e quer alcançar todo ser humano que está sofrendo.
Também nós, libertos e perdoados por Jesus, somos enviados hoje a proclamar e testemunhar esse amor misericordioso do Pai, feito ser humano em Jesus.

Somos curados e libertados para amar e cultivar relacionamentos saudáveis a partir da nossa casa, na nossa família. Ele nos tira do meio dos sepulcros e nos conduz a uma vida de paz e harmonia conosco e com o próximo, bastando para isso que nos rendamos ao Seu poder amoroso.
Você ainda continua lutando com as armas que o mundo lhe impõe ou já se rendeu ao poder do Deus que liberta o homem do pecado? Quais são os “espíritos maus” que insistem em prender você no meio dos sepulcros? Você já voltou para casa ou continua habitando no cemitério?

Propósito:
Concedei, Senhor nosso Deus, que Vos adoremos de todo o coração e amemos todos os homens com sincera caridade.

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