Capitulo ViI-CIDADE do Cais
Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e
conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a
ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. (I
Coríntios 13,2)
Já bem longe andando
Catarina e Zelinda seguiram pelo rio até chegar a ponte vermelha onde avistaram
a Cidade do Cais, eram duas horas da tarde. Quem sabe alguma alma caridosa lhes
desse algo para comer. Enquanto andavam pela cidade Catarina perguntou a
Zelinda:
- Você acha
que se alguém descobrir e falar o nome de um anjo disfarçado aqui na terra ele
revela a sua gloria?
Zelinda:
- Bom eu
acredito porque as palavras têm poder, a final de contas foi por meio delas que
Deus fez o mundo. Ele dizia faça isso e aquilo e tudo ia surgindo. E não
podemos nos esquecer o ser humano é imagem e semelhança de Deus. Então devemos
ter alguma coisa dele; se não fosse assim para que pedir benção de pai e mãe?
Após muito
pedirem e nada conseguirem Catarina sentou na calçada cansada, olhou para o mar
fazendo uma prece a Nossa Senhora dos Navegantes para ajudar naquela situação, então
saltou aos olhos ali na calçada uma moedinha tão pequenininha que só deu para
comprar um pãozinho pouco maior que seu polegar. Ela deu o pão para amiga e esta perguntou.
- E você não
vai comer nada Catarina?
- Vou sim já
estou até comendo – Disse ela imitando estar comendo algo bem gostoso, para que
sua companheira de viagem nada percebesse. – Zelinda posso te fazer uma
pergunta?
Zelinda:
- Claro que pode?
Catarina:
- O que você vai fazer em Lorena?
Zelinda:
- Fazer as pazes com minha irmã
gêmea, nós brigamos e por isso fiquei cega.
Catarina:
- Nunca ouvi falar que alguém
ficou cega por brigar com a irmã.
Zelinda:
- É que você não sabe os males
que o ressentimento faz.
Eis que elas subitamente
são cercadas por dois maus elementos. Um deles espremeu Catarina contra a
parede e o outro arrastou Zelinda para um beco próximo. Vendo a amiga em perigo
Catarina usando toda sua força empurra o malfeitor para longe e corre para
ajudá-la.
Zelinda também
não era fácil e deu umas boas bengaladas no outro bandido e ele a soltou. Só
que os dois malfeitores se recuperaram e as duas se viram cercadas no beco sem
ter para onde ir.
Então um
deles, o que estava na entrada do beco, pegou um pedaço de pau para surrar as
duas. Quando ele se preparou para fazê-lo irmã Helena apareceu e segurou o
braço do malfeitor o jogando contra a parede.
Irmã Helena:
- Vocês não
têm vergonha de baterem em duas menininhas?
Os dois foram
então para cima da freira que deu uma surra vergonhosa neles, colocando-os para
correrem completamente doloridos.
Irmã Helena se
voltando para as duas perguntou:
- O que vocês
duas estão fazendo aqui?
Catarina com
alegria abraçou irmã Helena e então relatou a aventura das duas até aquele
momento.
Helena então
as levou para o convento que ela morava, devido à lei vigente irmã Helena não
estava usando seu véu mostrando seu cabelos loiros, era a primeira vez que
Catarina via os cabelos de sua catequista aquilo apareceu estranho, pois mesmo
sem véu e o crucifixo que ela levava no pescoço era a mesma pessoa, só que era
com um leão sem juba; ao chegarem no convento bateram a porta na qual se lia:
“Não vos esqueçais da
hospitalidade, pela qual alguns, sem o saberem, hospedaram anjos”.(Hebreus 13,2).
Aquela frase
fez Catarina se recordar de sua mãe dona Irene que lhe recomendava.
- Minha
filha trate sempre as pessoas bem, pois Deus às vezes manda seus anjos
disfarçados, como a Arcanjo Rafael que se deu a conhecer como Azarias, para
saber como vão as coisas aqui na terra.
“Anjos
disfarçados” Catarina achava essa idéia muito engraçada; pois como eles
escondiam as asas? Estava pensando nisso quando uma jovem irmã
abriu a porta, com um belo sorriso e saudando-as dizendo paz e bem. Elas então
entraram no convento onde ao qual havia um belo jardim e no meio dele havia um
carvalho com um crucifixo pendurado e uma frase por cima do crucifixo:
“Como o Pai me ama, assim
também eu vos amo. Perseverai no meu amor”.
(São João 15,9)
Então seguiram pela direita do convento,
passando pela imagem de Nossa Senhora da Paz, depois uma pequena capela onde
algumas irmãs rezavam diante do Sacrário e finalmente a cozinha onde havia
comida com fartura para a felicidade de Catarina.
Na cozinha
enquanto comiam Catarina leu uma frase de Santo Agostinho em um quadro na
parede:
“A soberba provoca a desunião, o amor, a união”.
As irmãs do
convento ficaram encantas ao saberem o que aquelas duas aventureiras tinham
passado.
A Madre
superiora deixou que elas passassem a noite ali, arrumando-lhes um quarto. Zelinda assim que deitou na cama dormiu. Já
Catarina tinha algo esquentando sua cabeça e foi conversar com irmã Helena.
Catarina:
- Irmã Helena
tem uma coisa que está me perturbando as idéias.
Helena:
- O que é?
Catarina:
- Como é que
consegui ser mais forte que aquele bandido?
Helena:
- Ora
pequenina é que você foi tocada pelo dom do amor que nos faz ser muito mais
forte do que imaginamos. É por causa desse dom que uma mãe consegue levantar um
elefante que está para esmagar o seu filho. Nós temos por habito subestimar o
amor, só que nos esquecemos que Deus é amor e Dele vem a nossa força. Agora vá dormir, pois vou passar a noite no
carvalho rezando. E lembre-se pequenina “Nascemos por amor, vivemos para amar e somente o amor
eterniza nossas vidas”.(Frei Neylor Tonin)
No quarto Zelinda
dormia de roncar, Catarina deitou na cama e não conseguiu dormir eram tantas
coisas que tinham acontecido na viagem e apesar das dificuldades precisava
muito a agradecer a Jesus que sempre se fazia presente. Assim nesse pensamento
pegou seu rosário, caminhado até o Carvalho para rezar diante de Jesus
Crucificado junto com irmã Helena, só que a freira não estava mais lá e para
sua surpresa encontrou mais um anjo e nele estava escrito “Amor”. Então feliz
da vida agradeceu muito a Deus, rezou na intenção de Nossa Senhora da Conceição
e depois foi guardar o anjo na sua bolsa.
No dia
seguinte Catarina ao acordar percebeu que Zelinda não estava mais no quarto,
contudo viu que a amiga deixou na cama uma folha de papel com muitos pontinhos
nela. Catarina ficou pensando o que significava aquilo. Depois desistiu de
desvendar aquele mistério e foi procurar a amiga e não a encontrou em parte
alguma e tão pouco Irmã Helena. Então ela pensou na certa foram comprar coisas
para o resto da viagem.
Nisso soldados,
levados por aqueles dois malfeitores de antes, bateram a porta do convento e
Madre Superiora tratou de esconder Catarina em um local seguro. Só que o chefe
dos soldados ameaçou as irmãs do convento e Catarina temendo pelo pior se
entregou para evitar que as irmãs passassem por mais tormento.
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