domingo, 26 de junho de 2011


A piedade cândida de uma índia do século XVI está na origem de uma das maiores devoções populares colombianas e de um grande santuário que atrai contínuas peregrinações
Bogotá – A oitenta quilômetros ao norte de Cali, encontram-se a simpática e acolhedora cidade de Buga e o santuário colombiano de maior afluência de peregrinos. É o santuário do Senhor dos Milagres de Buga.
Nele se venera uma imagem, em tamanho natural, de Nosso Senhor Crucificado, cujos milagres freqüentes, desde o século XVI, marcaram profundamente os habitantes da região. Sua história remonta ao início do desbravamento, pouco mais de meio século depois da chegada de Colombo ao Novo Mundo.
Entre as famílias colonizadoras, destacaram-se os Fuenmayor como os verdadeiros fundadores de Buga. Como todos os colonos, por causa das ordenações reais recentemente promulgadas, eles também estavam obrigados a trabalhar pela evangelização dos índios.
Havia em sua casa uma índia ignorante, cuja função era lavar roupa. Tinha um espírito nobre e escutava atentamente as aulas de religião. Concebeu um desejo profundo de ter um crucifixo bonito, e economizou por muito tempo, do pouco dinheiro que ganhava, uma quantia para poder encomendar um em Quito, já então famosa pelos belos e piedosos crucifixos que ali se faziam.
Tendo conseguido o dinheiro necessário, soma considerável para a época, dirigiu-se à casa do vigário a fim de fazer a encomenda. No caminho, deparou com uma cena dilacerante. Um índio conhecido seu, acorrentado, estava sendo levado preso, porque não conseguira pagar uma dívida a um agiota. Comovida pelas lágrimas do prisioneiro, que iria deixar a família sem possibilidades de sustento, a índia comprou-lhe a liberdade, sem reservar nada para si
Recompensada a generosidade da índia
Retornou tranqüila para casa e reassumiu as suas ocupações habituais, convencida de haver feito uma obra de caridade mais agradável a Deus do que aquele seu piedoso desígnio de ter um belo crucifixo. Mas como juntar outra vez aquela soma? Não o sabia.
Certo dia, enquanto lavava roupa nas margens do rio Guadalajara, que banha a cidade, viu um objeto que flutuava, afundava, reaparecia por instantes e sumia de novo. Entrou na água, agarrou o objeto e levou-o até a margem do rio. Emocionada, verificou ser um pequeno crucifixo, que lhe vinha às mãos como um presente do Céu.
Sem comunicar a ninguém o fato, levou o precioso achado para sua humilde moradia, improvisou ali um altar com flores silvestres e o venerou por vários meses.
Certa noite, uns ruídos estranhos despertaram e encheram de temor a piedosa índia. Ela olhou para seu crucifixo, que era pequeno anteriormente, mas estava maior. Havia crescido. O crescimento milagroso prosseguiu por vários dias, atingindo o tamanho de um menino de uns 10 anos.
Aterrada com tal prodígio, a índia procurou seus patrões, que lhe aconselharam consultar o vigário, e eles próprios o informaram. A notícia espalhou-se logo pela região.
Assim, ainda no século XVI, começou uma grande devoção popular ao crucifixo miraculoso. Peregrinos vinham continuamente visitá-lo, e os favores celestes manavam em abundância.
Desfiguramento e novo milagre
Com o passar dos anos, a piedade indiscreta de muitos peregrinos — que cortavam do crucifixo pequenas lasquinhas para levá-las consigo — desfigurou-o totalmente. Um século depois, por determinação do Bispo de Popayán, uma comissão do Santo Ofício examinou o Santo Cristo e concluiu que, por causa de sua aparência deformada, já não era possível expô-lo à veneração dos fiéis, pois faltaria decoro à devoção. Portanto deveria ser queimado.
Um sacerdote aragonês foi encarregado do trabalho. Seguindo as boas praxes e as prescrições para o caso, o religioso mandou fazer num lugar apropriado uma grande fogueira, na qual lançou a imagem para ser consumida pelo fogo. Entretanto, milagrosamente as chamas nada puderam contra ela. Durante dois dias a fogueira ardeu. O crucifixo não só era incólume ao fogo, mas foi aumentando de tamanho, até atingir o porte de um adulto normal. Além disso, desapareceram as deformações causadas pelos fiéis. Parecia uma obra de arte recentemente acabada.
Diante do prodígio, o sacerdote mandou apagar o fogo e retirar das cinzas o crucifixo. Patenteando ainda mais a ação do Céu, a imagem começou a suar copiosamente uma espécie de óleo, que foi recolhido em algodões. Este fenômeno repetiu-se várias vezes. O sleo tinha propriedades curativas extraordinárias. e muitos doentes foram miraculados ali. Alguns paralíticos e cegos foram curados quando neles era aplicado o óleo.
Vasto santuário recebe multidões
Até hoje, o Santo Cristo conserva a cor da madeira queimada, muito escura, quase negra. A devoção que o povo lhe tributa na Colômbia e nas nações vizinhas tornou necessária a construção de um imenso santuário, continuamente visitado por milhares de peregrinos em busca de favores para suas almas e corpos necessitados.

Fonte: http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/idmat/

Nenhum comentário:

Postar um comentário