sábado, 20 de agosto de 2011

Deus não é rival do homem, mas dá vida em plenitude, ensina Papa

Leonardo Meira
Da Redação


Montagem sobre fotos / Reuters
''Deus é o amor onipotente que não tolhe nada, não ameaça'', diz Bento XVI

O Papa presidiu à celebração da Santa Missa na Solenidade da Epifania do Senhor nesta quinta-feira, 6, na Basílica Vaticana. A Eucaristia foi transmitida ao vivo pelo Sistema Canção Nova de Comunicação, a partir das 7h (horário de Brasília – 10h em Roma).

"Devemos tolher da nossa mente e do nosso coração a ideia da rivalidade, a ideia de que dar espaço para Deus seja um limite para nós mesmos; devemos abrir-nos à certeza de que Deus é o amor onipotente que não tolhe nada, não ameaça, antes, é o Único capaz de oferecer-nos a possibilidade de viver em plenitude, de provar a verdadeira alegria", disse na homilia, realizada após a proclamação do Evangelho e o anúncio do dia da Páscoa, que será celebrada em 24 de abril.


Segundo o Pontífice, na Epifania, a Igreja continua a contemplar e a celebrar o mistério do nascimento do Salvador. Essa celebração também é popularmente conhecida como festa de Reis, já que o Evangelho da Liturgia (Mt 2, 1-12) aborda o caminho dos Reis Magos no seguimento da Estrela de Belém até Jesus Menino.

Esses Reis representam a humanidade inteira e a destinação universal da salvação. O Papa perguntou: "Que tipo de pessoas eram, e que espécie de estrela era aquela?". Ele indica que eram, provavelmente, sábios que escrutavam o céu, mas não para buscar ler nos astros o futuro, e sim algo mais, a verdadeira luz, capaz de indicar a estrada a percorrer na vida.

"Eram pessoas convictas de que, na criação, existe aquilo que poderíamos definir como 'marca' de Deus, uma marca que o homem pode e deve tentar descobrir e decifrar", ressaltou.


Sinais de Deus

Os acontecimentos e personagens que os Magos encontraram em Jerusalém foram propostos pelo Santo Padre como meio de entender melhor o desejo desses homens de deixar-se guiar pelos sinais de Deus.

Primeiro, encontraram o Rei Herodes. Bento XVI explicou que também o tirano era interessado no menino que os Magos procuravam, mas não para adorá-Lo, e sim para suprimi-Lo. Nesse sentido, Herodes era um homem de poder, que via no outro um rival a combater para não perder seu trono. Também Deus lhe parecia um rival.

"É um personagem que não nos é simpático e que, instintivamente, julgamos de modo negativo pela sua brutalidade. Mas deveríamos perguntar-nos: talvez haja algo de Herodes também em nós? Talvez também nós, às vezes, vemos Deus como uma espécie de rival? Talvez também nós estejamos cegos diante de seus sinais, surdos às suas palavras, porque pensamos que Ele põe limites na nossa vida e não nos permite dispor da existência a nosso bel-prazer?", questionou.

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Os Reis Magos "eram pessoas convictas de que, na criação, existe aquilo que poderíamos definir como 'marca' de Deus, uma marca que o homem pode e deve tentar descobrir e decifrar", explica o Papa
Segundo, encontraram os estudiosos, teólogos, especialistas que sabiam tudo sobre a Escritura e, portanto, um precioso auxílio para quem deseja percorrer o caminho de Deus. No entanto, eram guias para os outros, mas eles próprios não caminham, permanecem imóveis, ressaltou o Bispo de Roma, recordando uma frase de Santo Agostinho.

"Novamente podemos perguntar-nos: não há também em nós a tentação de considerar as Sagradas Escrituras, este tesouro riquíssimo e vital para a fé da Igreja, mais como um objeto para o estudo e discussão dos especialistas que como o Livro que nos indica o caminho para chegar à vida?", apontou.

Por fim, cita a estrela e algumas discussões e explicações dados por astrônomos acerca de sua natureza. No entanto, o essencial para compreender a estrela é o fato de que aqueles Magos buscavam os traços de Deus, certos de que Ele pode ser entrevisto na criação.

"É com os olhos profundos da razão em busca do sentido último da realidade e com o desejo motivado pela fé que é possível encontrá-Lo, que se torna possível que Deus se aproxime de nós", ensinou.

Bento XVI salientou que não se pode deixar limitar a mente por teorias que sempre chegam somente até certo ponto e que, embora não estejam em concorrência com a fé, não chegam a explicar o sentido último da realidade.


Poder de Deus

O Pontífice lembrou que, chegando a Jerusalém, a estrela desaparece. Embora, para os Magos, fosse lógico buscar o rei no palácio real, a estrela guia-os à pequena cidade de Belém, entre os pobres, humildes, para encontrar o Rei do mundo.

"Os critérios de Deus são diferentes daqueles dos homens; Deus não se manifesta no poder deste mundo, mas na humildade do seu amor, aquele amor que requer a nossa liberdade de ser acolhido para transformar-nos e tornar-nos capazes de chegar Àquele que é o Amor", disse.

Ele também salientou que a linguagem da criação permite percorrer um bom trecho da estrada rumo a Deus, mas não nos dá a luz definitiva. "É a Palavra de Deus a verdadeira estrela que, na incerteza dos discursos humanos, oferece-nos o imenso esplendor da verdade divina", afirmou, explicando que é na Igreja que a Palavra montou sua tenda.

"A nossa estrada será sempre iluminada por uma luz que nenhum outro sinal pode nos dar. E poderemos, também nós, tornar-nos estrelas para os outros, reflexo daquela luz que Cristo fez resplandecer sobre nós", concluiu.

Quinta-feira, 06 de janeiro de 2011, 09h42 | Atualizada, 11h53

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