quinta-feira, 25 de agosto de 2011


Vi a qualidade dos participantes da JMJ





14:28 - 24/08/2011

Na organização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de Madri, houve falhas e imprevistos, mas os incidentes (menos de 1%, segundo os organizadores) foram muito pequenos para um evento de semelhante magnitude.

Quem conversa com ZENIT sobre isso é o responsável pela organização, Yago de la Cierva, que esteve muito perto do Papa durante esses quatro dias memoráveis. Ele explica quais foram os maiores desafios que a JMJ teve de enfrentar, especialmente no aeródromo de Cuatro Vientos, devido às elevadas temperaturas e à intensa afluência de peregrinos na última hora.

Outro dos momentos difíceis de que fala foi a violenta tempestade imprevista que atingiu o aeródromo durante a vigília, que provocou que, por motivos de segurança, não se pudesse distribuir a comunhão na Missa do domingo, na esplanada.

Apesar dos incidentes, pelos quais a organização pede desculpas aos afetados, o balanço de Yago de la Cierva é muito positivo: “O segredo de uma festa está na qualidade dos seus convidados, e na JMJ isso foi evidente”, afirma.

ZENIT: Qual é sua avaliação geral desta 26ª JMJ?

Yago de la Cierva: Uma maravilha da graça. Madri mudou, a Espanha mudou e sobretudo milhares de jovens se aproximaram de Jesus Cristo graças ao magistério do Papa. Se eu tivesse que destacar algo, seria o elevadíssimo número de jovens que souberam estar centrados no essencial e dedicaram tempo à adoração eucarística, se confessaram e participaram dos atos com uma devoção palpável.

ZENIT: Quais foram os principais problemas que enfrentaram?

Yago de la Cierva: A JMJ é um evento de jovens para jovens, organizado por instituições eclesiais do mundo inteiro, que trabalham com metodologias muito diferentes e culturas quase opostas. Não é a mesma coisa um grupo italiano, com muita experiência e flexibilidade, e outro mais rígido; um grupo pequeno, que compra cartões telefônicos espanhóis e outro grupo enorme, com pouca comunicação entre seus membros; pessoas de culturas nas quais a pontualidade é um valor e basta dizer as coisas duas vezes, e outras nas quais o tempo é flexível e uma barreira é um convite a pular... Neste sentido, a JMJ é essencialmente um caos organizado. Mas os resultados foram fabulosos, precisamente porque as pessoas sabiam o que buscavam: uma peregrinação.

Em segundo lugar, existem as dificuldades relativas a organizar um evento dessa dimensão com equipes de voluntários e orçamento limitado. É muito satisfatório que quase tudo tenha saído bem, mas nos dói – e pedimos desculpas por isso – o que saiu mal: grupos mal designados aos alojamentos, alguns erros na distribuição das refeições em Cuatro Vientos, escassez de água durante duas horas em algumas áreas (devido a que as reservas de água foram utilizadas para tomar banho, não para beber – algo compreensível, dado o calor, mas que atrapalhou nossos planos). Mas estes incidentes não chegam a 1% em nenhum dos casos. Isso nos dói porque afeta as pessoas, mas os especialistas em grandes eventos (e a experiência em outras JMJ certifica isso) nos dizem que esses erros infelizmente são inevitáveis. Mas nem por isso lhes damos pouca importância, e pedimos desculpas aos que foram afetados.

ZENIT: Com relação às manifestações contrárias à JMJ na Puerta del Sol e às imagens que rodaram pelo mundo, de peregrinos insultados e agitados, qual é a sua avaliação? A organização, em algum momento, temeu um boicote das atividades?

Yago de la Cierva: A situação política e social espanhola não é simples e por isso não é estranho que muitos jornalistas que foram a Madri para cobrir o evento não tenham entendido totalmente o que estava acontecendo. Só houve uma manifestação contra a visita do Papa, que o governo teve de aprovar porque, na solicitação oficial, não constava sua verdadeira natureza. Os protestos do 15-M não eram contra a JMJ. Por outro lado, alguns dos agitadores não estavam em Madri por acaso, mas poderiam ser qualificados como “profissionais da provocação”. De fato, os detidos pela polícia tinham, todos, antecedentes criminais; e muitos deles não eram espanhóis. Aproveito para agradecer e elogiar o trabalho da polícia espanhola, que soube manter a ordem, salvo escassíssimas exceções, devidas precisamente aos violentos.

Minha avaliação destes fatos é que foram as sombras de todo quadro, que não fazem outra coisa a não ser destacar as luzes e as figuras. Ficou muito mais clara a diferença entre os que difundem o amor e os que vivem o ódio; entre os que querem ajudar os jovens a que olhem para o futuro com responsabilidade e esperança, e os que se fecham em si mesmos; entre os que deram exemplo de convivência e os que são intolerantes com os que não pensam como eles e empregam a violência verbal, gráfica ou física... Mas agora é mais fácil apreciar o trabalho da Igreja com os jovens no mundo inteiro.

ZENIT: Talvez um dos momentos mais delicados tenha sido a vigília de oração do sábado, quando a tempestade repentina fez que o Papa tivesse de parar e várias barracas foram danificadas ou caíram. Tiveram medo de que, em algum momento, a atividade tivesse de ser suspensa?

Yago de la Cierva: Vivi esses momentos muito perto do Papa e, na verdade, a única coisa que nos preocupou foi que não sabíamos como proteger o Papa da chuva, porque chegava na horizontal... De fato, perguntaram ao Papa se ele queria ir embora e ele disse duas vezes que não, que queria continuar. Por isso, o ato foi reduzido, já que nunca se sabe quanto pode durar uma tempestade, e se deixou a parte central: a adoração eucarística. O próprio Papa comentou depois que tinha se alegrado, porque assim ficava mais claro o essencial: a presença de Jesus Sacramentado entre nós e a adoração pessoal em silêncio. E eu me atreveria a acrescentar que também ficou mais clara a personalidade do Papa e dos jovens: ninguém foi embora, mas todos enfrentaram essa chuva com alegria e capacidade de sacrifício. Não tinham vindo para passar um bom momento e esse incômodo era claramente previsto por Deus, razão pela qual o assumiram com alegria.

O forte vento inutilizou uma das 17 tendas eucarísticas e causou danos em outras duas. Para evitar males maiores, a polícia decidiu rasgar todas as que estavam bem, para evitar o efeito vela, e clausurá-las, para que não houvesse mais feridos; e por esse motivo não foi possível dar a comunhão na manhã seguinte, já que ela seria distribuída a partir das tendas eucarísticas. Este talvez tenha sido o elemento mais doloroso da Missa: que tantos jovens não tenham podido receber sacramentalmente o Senhor em Cuatro Vientos, mas que tenham tido de fazer uma comunhão espiritual e depois ir a uma igreja, à tarde, para receber o Senhor sacramentado. Mas entendo bem as razões da polícia: em um momento de dúvida, é preciso optar pela segurança física dos presentes, levando em consideração a incerteza do tempo e a escuridão reinante.

ZENIT: Outro dos problemas foi que muitos peregrinos não puderam estar no recinto de Cuatro Vientos devido à falta de espaço. Você poderia nos explicar o que aconteceu e por quê?

Yago de la Cierva: Cuatro Vientos tinha duas áreas: uma para os inscritos e outra para os não-inscritos. Na primeira, cabiam 100 mil pessoas a mais que os inscritos e, no entanto, muitos jovens (e eu entendo isso: quando tinha essa idade, fiz exatamente a mesma coisa) não respeitaram os acessos nem as regiões designadas, e ocuparam lugares que não lhes correspondiam. Quando chegaram as pessoas que legitimamente deveriam estar lá, ao ver que os lugares estavam ocupados, não quiseram voltar, mas ocuparam parte das vias de comunicação. Nestas circunstâncias, não era seguro para os jovens que continuasse entrando mais gente, porque não poderiam passar ambulâncias, veículos com água etc. E nós, em parceria com a polícia, decidimos fechar os acessos: é melhor estar fora do que colocar os jovens em perigo.

Ficaram fora, portanto, 18 mil peregrinos, porque muitos deles preferiram esperar nos acessos mais próximos do cenário do que ir para a parte sul, como lhes foi indicado. É um número notável e realmente lamentamos por eles; mas equivale a 1% dos que assistiram à vigília. Tenho que acrescentar que, na primeira hora, pedimos aos jovens que abandonassem as vias e recolhessem seus sacos e barracas de dormir, algo que fizeram imediatamente e, por isso, puderam abrir as portas e deixar passar todos os que estavam fora, e muitos outros que só participaram da Missa.

ZENIT: Calor, chuva, problemas de segurança... Será que esta foi a JMJ mais “acidentada”?

Yago de la Cierva: Não sei... Todas as JMJ tiveram seus problemas. O nosso talvez tenha diso o fato de que esse dia foi o mais quente do verão e Cuatro Vientos era o lugar mais quente da Comunidade de Madri. Mas é preciso confiar na providência: no final, tudo tem sentido. O segredo de uma festa está na qualidade dos seus convidados e na JMJ isso foi evidente.

ZENIT: Pessoalmente, o que você pensou no momento em que o vento sacudia o Papa, o cenário e os jovens?

Yago de la Cierva: Na coragem do Papa e no magnífico exemplo que os jovens deram.

ZENIT: Que dados de participação final a organização pode oferecer?

Yago de la Cierva: Os dados de participação não são fornecidos por nós, pois não temos os instrumentos técnicos para uma medição séria, e sim as autoridades e os especialistas. Sabemos somente que houve muitas inscrições de última hora e alcançamos quase 475 mil; as companhias telefônicas nos falam de quase 1,5 milhão de telefones operativos em Cuatro Vientos; a Câmara de Comércio de Madri indicou que o retorno econômico imediato da JMJ para a economia madrilena foi de 160 milhões de euros; a associação de restaurantes triplicou suas cifras de negócio; o seguimento da JMJ através de redes sociais foi altíssimo; o sistema de saúde de Madri mostra que foi o evento mais numeroso e longo que já atendeu e está surpreso pelos baixíssimos índices de atendimentos... E, como curiosidade, não deixa de assombrar os espanhóis que, no país do “botellón”, mais de um milhão de jovens não tenham provocado nenhuma intoxicação etílica. Dá para perceber que não tinham participado de uma JMJ.

Fonte: Zenit

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