segunda-feira, 25 de abril de 2011

DOMINGO DA PÁSCOA NA RESSURREIÇÃO DO SENHOR


Domingo, 24 de abril de 2011

Páscoa da Ressurreição, 1ª Semana do Saltério (Livro II), cor litúrgica Branca

Hoje: Dia Internacional do Jovem Trabalhador e dia do Operador de Triagem e Trnasbordo

Santos: Marcos (evangelista), Aniano (bispo), Heribaldo (bispo), Roberto Anderton e Guilherme Marsden (beatos e mártires), Calista, Evódio

Antífona: Ressuscitei, ó Pai, e sempre estou contigo: pousaste sobre mim a tua mão, tua sabedoria é admirável, aleluia!

Oração: Deus, por vosso Filho unigênito, vencedor da morte, abristes hoje para nós as portas da eternidade. Concedei que, celebrando a ressurreição do Senhor, renovados pelo vosso Espírito, ressuscitemos na luz da vida nova. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

1ª Leitura: Atos (At 10, 34a. 37-43)
Comemos e bebemos com ele depois que ressuscitou dos mortos

Naqueles dias, 34aPedro tomou a palavra e disse: 37"Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judéia, a começar pela Galiléia, depois do batismo pregado por João: 38como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele. 39E nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra dos judeus e em Jerusalém. Eles o mataram, pregando-o numa cruz.

40Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia, concedendo-lhe manifestar-se 41não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido: a nós, que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos. 42E Jesus nos mandou pregar ao povo e testemunhar que Deus o constituiu juiz dos vivos e dos mortos. Todos os profetas dão testemunho dele: 43"Todo aquele que crê em Jesus recebe, em seu nome, o perdão dos pecados'". Palavra do Senhor!

Comentando a I Leitura

O querigma cristão

O capítulo 10 de Atos dos Apóstolos constitui uma página de especial importância. Lucas (o mesmo autor do evangelho) revela uma de suas intenções fundamentais: a salvação trazida por Jesus Cristo é para todos os povos. Pedro, depois de um processo de relutância e discernimento, aceita o convite para entrar na casa de um pagão, centurião romano, chamado Cornélio. É a porta de entrada para o mundo dos gentios, missão que será assumida integralmente por Paulo.

É significativo o fato de ser Pedro aquele que primeiro rompe a barreira do judaísmo exclusivo para dialogar com os estrangeiros. É recebido por Cornélio com muita reverência. Lucas enfatiza a autoridade de Pedro, representante dos apóstolos. Quer fortalecer a fidelidade à tradição apostólica. A atitude de Pedro na casa de um romano legitima a abertura para todos os povos. Jesus é o Salvador universal.

Cornélio revela-se extremamente receptivo à pessoa e à mensagem de Pedro. De fato, a resistência ao anúncio do evangelho é perceptível muito mais entre os judeus do que entre os gentios. O próprio Pedro manifesta dificuldade em desvencilhar-se do exclusivismo judaico e da lei de pureza. Converte-se à medida que se insere no lugar social dos estrangeiros, a ponto de comer com eles. É na casa de Cornélio que ele se abre verdadeiramente para o plano divino de salvação universal: “Dou-me conta de verdade que Deus não faz acepção de pessoas, mas que, em qualquer nação, quem o teme e pratica a justiça lhe é agradável” (10,34-35). O critério de pertença ao povo de Deus já não é a raça ou o cumprimento da Lei, e sim a prática da justiça. Por esse caminho, dá-se a inclusão de todos os povos, sob a ação do Espírito Santo. As comunidades cristãs primitivas concretizaram esse ideal. Formadas por pessoas de culturas diferentes, reuniam-se nas casas, ao redor da mesma mesa e unidas na mesma fé.

O discurso de Pedro constitui um resumo da catequese primitiva. É a síntese do querigma apostólico. Apresenta Jesus de Nazaré, desde o seu batismo, passando pela sua missão de resgate da vida e dignidade de todas as pessoas, pela sua morte de cruz, culminando com a sua ressurreição. O anúncio de Pedro é fundamentado em seu próprio testemunho e no de várias outras pessoas: “Nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez” (v. 39); “Nós comemos e bebemos com ele, após sua ressurreição dentre os mortos” (v. 39). O discurso termina com a confissão de fé em Jesus como juiz dos vivos e dos mortos, constituído por Deus e anunciado pelos profetas. E finalmente: “Todo aquele que nele acreditar receberá a remissão dos pecados” (v. 43). [Celso Lorashi, Mestre em Teologia Dogmática, Vida Pastoral, n.277, Paulus]

Tempo Pascal

Os cinquenta dias entre o Domingo da Ressurreição e o Domingo de Pentecostes sejam celebrados com alegria e exultação, como se fossem um só dia de festa, ou melhor, “como um grande Domingo” (Santo Atanásio). Os Domingos deste tempo sejam tidos como Domingos da Páscoa e, depois do Domingo da Ressurreição, sejam chamados 2º, 3º, 4º, 5º, 6º e 7º Domingos da Páscoa. O Domingo de Pentecostes encerra este tempo sagrado de cinquenta dias. No Brasil, celebra-se no 7º Domingo da Páscoa e solenidade da Ascensão do Senhor.

Salmo 117 (118), 1-2. 16ab-17. 22-23 (+ 24)
Este é o dia que o senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!

Dai graças ao Senhor, porque ele é bom! "Eterna é a sua misericórdia!" A casa de Israel agora o diga: "Eterna é a sua misericórdia!"

A mão direita do Senhor fez maravilhas, a mão direita do Senhor me levantou. Não morrerei, mas ao contrário, viverei para cantar as grandes obras do Senhor!

A pedra que os pedreiros rejeitaram, tornou-se agora a pedra angular. Pelo Senhor é que foi feito tudo isso: Que maravilhas ele fez a nossos olhos!

 

II Leitura: Colossenses (Cl 3, 1-4)
Esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo

Irmãos, 1se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, 2onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. 3Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus.4Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória. Palavra do Senhor!

Comentando a II Leitura

Cristo é a nossa vida!

A comunidade cristã da cidade de Colossas, na Ásia Menor, manifestava certo distanciamento das verdades fundamentais da fé. Influenciadas por tendências da época (por exemplo, a importância dada às forças cósmicas, depositando nelas toda a confiança), havia pessoas que observavam práticas religiosas, dietas e exercícios de ascese (2,16-23) levadas por “vãs e enganosas filosofias”. Havia também pessoas levadas pela “fornicação, impureza, paixão, desejos maus e a cobiça de possuir” (v. 5). O autor da carta preocupa-se com essa situação e, por isso, escreve aos colossenses no intuito de orientá-los para uma vida coerente com a fé em Jesus Cristo, único mediador entre Deus e as criaturas.

Nessa pequena leitura deste domingo de Páscoa, encontramos quatro pontos do querigma cristão que fundamentam a fé das primeiras comunidades: a morte de Jesus, sua ressurreição, sua exaltação à direita de Deus e sua volta. Cada um desses pontos é indicativo de atitudes que caracterizam o novo modo de viver dos cristãos.

A fé na morte de Jesus Cristo implica a morte de nossos maus comportamentos. Para os cristãos colossenses, implicava morrer para as práticas religiosas que contradiziam a fé cristã; implicava passar de uma mentalidade idolátrica para o mergulho na vida divina, seguindo a Jesus Cristo: “Vós morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus”.

A fé na ressurreição e na ascensão de Jesus Cristo implica discernir o que realmente edifica o ser humano em comunidade: “Se, pois, ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto...”. Quem permanece com o pensamento e o coração mergulhados em Deus vive dignamente. A fé na volta de Jesus nos motiva a viver na esperança militante, com a certeza de estarmos com ele: “Quando Cristo, que é vossa vida, se manifestar, então vós também com ele sereis manifestados em glória”. [Celso Lorashi, Mestre em Teologia Dogmática, Vida Pastoral, n.277, Paulus]

Sequência:

1. Cantai, cristãos, afinal: “Salve, ó vítima pascal!” Cordeiro inocente, o Cristo abriu-nos do Pai o aprisco.

2. Por toda ovelha imolado, do mundo lava o pecado. Duelam forte e mais forte: é a vida que enfrenta a morte.

3. O rei da vida, cativo, é morto, mas reina vivo! Responde, pois, ó Maria: no teu caminho o que havia?

4. “Vi Cristo ressuscitado, o túmulo abandonado. Os anjos da cor do sol, dobrado ao chão o lençol...

5. ...O Cristo, que leva aos céus, caminha à frente dos seus!” Ressuscitou de verdade. Ó rei, ó Cristo, piedade!

Evangelho (Missa Vespertina): Lc 24, 13-35
No caminho de Emaús

13Naquele mesmo dia, o primeiro da semana, dois dos discípulos de Jesus iam para um povoado, chamado Emaús, distante onze quilômetros de Jerusalém. 14Conversavam sobre todas as coisas que tinham acontecido. 15En-quanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles. 16Os discípulos, porém, estavam como que cegos, e não o reconheceram. 17En-tão Jesus perguntou: "O que ides conversando pelo caminho?" Eles pararam, com o rosto triste, 18e um deles, chamado Cléofas, lhe disse: "Tu és o único peregrino em Jerusalém que não sabe o que lá aconteceu nestes últimos dias?" 19Ele perguntou: "O que foi?" Os discípulos responderam: "O que aconteceu com Jesus, o nazareno, que foi um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e diante de todo o povo. 20Nossos sumos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. 21Nós esperávamos que ele fosse libertar Israel, mas, apesar de tudo isso, já faz três dias que todas essas coisas aconteceram! 22É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos deram um susto. Elas foram de madrugada ao túmulo 23e não encontraram o corpo dele. Então voltaram, dizendo que tinham visto anjos e que estes afirmaram que Jesus está vivo. 24Alguns dos nossos foram ao túmulo e encontraram as coisas como as mulheres tinham dito. A ele, porém, ninguém o viu".

25Então Jesus lhes disse: "Como sois sem inteligência e lentos para crer em tudo o que os profetas falaram! 26Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?" 27E, começando por Moisés e passando pelos profetas, explicava aos discípulos todas as passagens da escritura que falavam a respeito dele. 28Quando chegaram perto do povoado para onde iam, Jesus fez de conta que ia mais adiante. 29Eles, porém, insistiram com Jesus, dizendo: "Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!" Jesus entrou para ficar com eles. 30Quando se sentou à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes distribuía.

31Nisso os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus. Jesus, porém, desapareceu da frente deles. 32En-tão um disse ao outro: "Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, e nos explicava as escrituras?"33Naquela mesma hora, eles se levantaram e voltaram. para Jerusalém onde encontraram os onze reunidos com os outros. 34E estes confirmaram: "Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!" 35Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão. Palavra da Salvação!

Comentando Lc 24, 13-35

Onde e como experimentar o Cristo vivo?

O episódio dos discípulos de Emaús é texto exclusivo de Lucas (Marcos sintetiza a cena, cf. Mc 16,12-13). Pertence aos acontecimentos pós-pascais e responde à pergunta: onde e como experimentar o Cristo vivo? De fato, no que Lucas relata antes do texto de hoje (24,1-12) transparece a incredulidade e perplexidade dos discípulos. Num plano mais amplo, o episódio revela as dificuldades de muitos cristãos em aceitar a ressurreição de Jesus, pois o evangelho não quer simplesmente narrar fatos do passado, mas iluminar as dificuldades do presente (lembramos que o Evangelho de Lucas se destinava a cristãos de cultura grega, para os quais a ressurreição da matéria era um absurdo).


Antes de entrarmos no texto de hoje, algumas observações de conjunto nos permitirão entendê-lo melhor. Em primeiro lugar, há nítido contraste entre Jerusalém e Emaús. Jerusalém foi o lugar do testemunho de Jesus (morte na cruz). De lá, animados pelo Espírito do Ressuscitado, os discípulos sairão para o testemunho. Sair de Jerusalém sem crer que lá é o lugar da vitória do Senhor é caminhar sem rumo e sem sentido. Por isso, Emaús é sinônimo da cegueira, da não compreensão do evento da Páscoa. Em segundo lugar, há contraste entre o não reconhecimento de Jesus por parte dos discípulos (v. 16) e o pleno reconhecimento (v. 31). Em terceiro lugar, o contraste está no fato de Jesus se aproximar e conversar com os discípulos (v. 15) e desaparecer da frente deles (v. 31). Finalmente, há grande contraste entre os conteúdos da conversa dos discípulos antes de Jesus caminhar com eles (v. 14) e depois que reconheceram Jesus (v. 32). A gente então se pergunta: o que foi que causou – e continua causando – essa reviravolta na vida desses discípulos e na vida dos cristãos?


a. Jesus é aquele que caminha com a humanidade (vv. 13-16)

É o dia da ressurreição (v. 13), mas os dois discípulos não entenderam os acontecimentos dos dias anteriores. Para eles, Jerusalém é o lugar da derrota de Jesus. Por isso eles vão para Emaús, desanimados como quem perdeu o sentido da vida. O texto não permite localizar geograficamente Emaús. Algumas variantes do texto grego situam esse lugar a 11 quilômetros de Jerusalém; outras a 30 quilômetros. Mas isso não é importante. O importante é notar o seguinte: Para Lucas, Jerusalém é o lugar onde Jesus venceu; para os discípulos de Emaús, é o lugar da derrota e da morte. Ir a Emaús não é somente ir para casa, mas abandonar o projeto de Deus.

Ora, é nesse contexto de perplexidade e desânimo que o Ressuscitado se faz presente como força revolucionária. Jesus é aquele que caminha com a humanidade, com a energia de sua vitória sobre a morte. A perplexidade e desânimo dos discípulos se manifestam no teor da conversa (v. 14). Revelam o estado de ânimo de uma comunidade desorientada, sem força para o testemunho. É com esse tipo de comunidade que Jesus se põe a caminho.

b. Jesus revela à comunidade o sentido de sua morte e a vitória da ressurreição (vv. 17-27)

A comunidade desorientada não experimenta a vitória do Ressuscitado. Percebe os fatos, mas não os discerne. Jesus pode estar caminhando com ela, mas ela não o reconhece. De fato, no diálogo de Jesus com os discípulos, percebe-se que eles conhecem os fatos referentes à vida de Jesus antes e durante a paixão; manifestam suas expectativas em relação à libertação (v. 21) e sua frustração diante da morte na cruz (v. 20). A referência ao terceiro dia após a morte de Jesus (v. 21) sela essa frustração sem expectativas. De fato, acreditavam que, depois do terceiro dia, o espírito se afastaria definitivamente do corpo, sem possibilidade de retorno. A morte teria tomado conta de Jesus e da comunidade. Nem sequer o testemunho das mulheres, o túmulo vazio, a mensagem dos anjos e a própria constatação de que o sepulcro está vazio (vv. 22-24a; cf. 24,1-12) são razões que mereçam crédito: “Ninguém o viu” (v. 24b). Nem mesmo a presença de Jesus caminhando com eles é capaz de fazer reconhecê-lo!


Eis, então, que Jesus apresenta o primeiro instrumento que suscita a fé na ressurreição – a Bíblia: “Começando por Moisés e continuando pelos Profetas, explicava para os discípulos todas as passagens da Escritura que falavam sobre ele” (v. 27). Moisés e os Profetas significam, aqui, todo o Antigo Testamento. Jesus é a chave de leitura de todo o Antigo Testamento. É o perfeito exegeta do Pai (Jo 1,18). Mostra-lhes, com base no Antigo Testamento, que o projeto do Pai tomou forma definitiva no Messias sofredor.


c. Jesus é aquele que partilha e comunica a vida (vv. 28-32)

Cativados pela palavra de Jesus, os discípulos convidam-no para que seja hóspede deles: “Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!” (v. 29). Aqui é preciso ir além da simples constatação de que, como em diversos lugares do mundo, na Palestina a noite cai depressa. O pedido dos discípulos é o próprio apelo da comunidade cristã. De fato, quem sairia prejudicado pela noite que se aproximava: Jesus ou os discípulos? Estes, apesar de terem uma casa onde ficar, acabariam privados da luz que é Jesus. Nesse sentido, o apelo dos discípulos está bem próximo de outra invocação das primeiras comunidades: “Vem, Senhor Jesus!” (Maranathá, cf. Ap 22,20).


Jesus aceita o convite em solidariedade à comunidade. De fato, de hóspede passa a ser dono da casa, o anfitrião, pois é ele quem lhes dá o pão: “Sentou-se à mesa com os dois, tomou o pão, o abençoou, depois partiu e o dava a eles” (v. 31). Temos nesse versículo os termos técnicos que indicam a eucaristia. É o segundo instrumento que leva à fé em Jesus ressuscitado: a partilha, a comunicação da vida. E é também o momento decisivo, porque os olhos dos discípulos se abrem e eles reconhecem Jesus (v. 31) nestes dois meios fundamentais: a Sagrada Escritura e a eucaristia. Daí em diante é supérflua a presença física de Jesus. Ele desaparece porque a comunidade possui os dois sacramentos da presença dele: sua Palavra e seu gesto de partilha. Basta viver isso para sentir o Cristo vivo e presente em nosso meio.


d. O testemunho dos discípulos é o prolongamento da vitória de Jesus (vv. 33-35)

O dia da Páscoa se encerrou com a fração do pão, na qual os discípulos reconhecem Jesus (no mundo bíblico, o novo dia se inicia à noitinha). Estamos, pois, no amanhã da Páscoa, hora do testemunho da comunidade que experimentou a presença do Cristo ressuscitado no meio dela. Lucas salienta que a hora do testemunho se inicia imediatamente (cf. v. 33), levando os discípulos de volta a Jerusalém, lugar do testemunho de Jesus e lugar de onde, após o Pentecostes (At 2,1-11), os discípulos sairão para levar a mensagem ao mundo inteiro (Lc 24,47; cf. At 1,8).


Concluindo, podemos afirmar que a Palavra de Deus (Bíblia) e a partilha mudaram completamente a orientação de vida daqueles dois discípulos. Aquilo que Jesus fez com eles o faz também conosco hoje. Ele é a Palavra e o Pão partilhados. Quando aprenderemos que, sem partilha, fraternidade e solidariedade, estaremos caminhando num rumo que nos afasta sempre mais do testemunho de Jesus? [Vida Pastoral nº 253, Paulus, 2007]

Evangelho (Missa Noturna): João (Jo 20, 1-9)
Ele devia ressuscitar dos mortos

1No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo. 2Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: "Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram". 3Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. 4Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo.5Olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou. 6Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão 7e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte. 8Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou. 9De fato, eles ainda não tinham compreendido a escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos. Palavra da Salvação!

Leituras paralelas: Mt 28, 1-10; Mc 16, 1-8; Lc 24, 1-12

Comentando João (Jo 20, 1-9)

O dia da nova criação

O primeiro dia da semana indica um novo tempo. Tem ligação com o início da criação do mundo. A morte de Jesus significou a passagem das trevas para a luz que nunca mais se apagará. A fé na ressurreição, porém, não se processa da mesma maneira em todas as pessoas. Algumas precisam de um tempo maior para assimilar essa verdade que tudo transforma. Maria Madalena recebe especial distinção: ainda no escuro, dirige-se ousadamente ao túmulo de Jesus. Apesar de ver a pedra removida, não consegue ainda perceber a luz do sol (Jesus que ressuscitou) anunciando uma nova aurora. Perplexa, corre ao encontro de Simão Pedro e do discípulo que Jesus amava para dizer-lhes de sua preocupação com o que havia constatado. O seu anúncio provoca a movimentação dos dois discípulos na busca do verdadeiro sentido dos últimos acontecimentos.

Maria Madalena, nesse relato de João, é representativa da comunidade que não aceita permanecer acomodada. Busca ansiosamente a explicação do que realmente aconteceu naquele “primeiro dia da semana”. É atitude muito positiva, pois “quem busca encontra e quem procura acha”. Por isso, ela é especialmente valorizada. Jesus deixa-se encontrar. Impulsionada pelo amor, caminha na direção do Amado. O maravilhoso encontro de Maria Madalena com Jesus ressuscitado se dá logo a seguir (20,11-18).

A comunidade cristã primitiva reconhecia-se no jeito de ser de Maria Madalena, de Pedro e do discípulo amado. Havia pessoas que ainda permaneciam nas “trevas” da morte de Jesus; sentiam-se desamparadas e desorientadas. Havia as que não conseguiam acolher a verdade da ressurreição de Jesus. Diziam que seu corpo fora retirado por alguém e que se inventou a notícia de que ele havia ressuscitado. É o que se percebe na expressão de Maria Madalena: “Retiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o colocaram”. Essas pessoas ainda estão no emaranhado de dúvidas, porém, pouco a pouco, receberão a graça de reconhecer a ressurreição de Jesus como um acontecimento verdadeiro e não como uma lenda.

Pedro e o discípulo que Jesus amava, ao ouvirem a notícia de Maria Madalena, correm para o local onde Jesus fora enterrado. Partem juntos, mas Pedro corre menos. É intenção dos autores do Evangelho de João demonstrar a dificuldade de Pedro em entender e aceitar o verdadeiro significado da morte de Jesus. Talvez esteja ainda amarrado à sua vergonha de ter negado o Mestre e de tê-lo abandonado na hora decisiva. Pedro, porém, segue o discípulo que Jesus amava e, à tarde desse mesmo dia, fará a experiência maravilhosa de encontrar-se com o Ressuscitado junto com outros discípulos (20,19-23). Também na comunidade cristã havia pessoas que manifestavam resistência a aderir a Jesus morto e ressuscitado com convicção de fé. Lentamente, porém, com a ajuda dos “discípulos amados”, chegaram a trilhar o caminho do seguimento de Jesus, a ponto de dar a vida por ele, como aconteceu com o próprio Pedro.

O “discípulo que Jesus amava” chega mais depressa ao túmulo. Esse discípulo é aquele que, junto com algumas mulheres, acompanhou Jesus até a cruz (19,25-27). Testemunhou sua morte e lhe foi solidário. Agora também mostra solidariedade para com Pedro, que chega depois. Dá-lhe preferência para entrar no túmulo. Reconhece sua autoridade. Ao entrar, Pedro vê as faixas de linho e o sudário. O texto não diz que ele acreditou, apenas “viu”. Porém, do discípulo amado, diz que ele “viu e acreditou”. Os mesmos sinais são interpretados de forma diferente. Para quem ama a Jesus e se sente amado, nada o impede de crer na vitória da vida sobre a morte.

Os discípulos voltam para casa. É na casa que as comunidades primitivas se reúnem para ler e compreender a Sagrada Escritura, fazer a memória de Jesus, partilhar a experiência de fé e crescer no amor fraterno. É na casa onde se derrubam as barreiras separatistas e se exercita a acolhida respeitosa da alteridade. A Igreja nas casas vai constituir o espaço sagrado por excelência onde Jesus ressuscitado manifesta sua presença, se dá em alimento e convoca seus discípulos à missão. [Celso Lorashi, Mestre em Teologia Dogmática, Vida Pastoral, n.277, Paulus]

Oração da assembleia (Missal Dominical, Paulus, 1995)

Por todos os cristãos, para que, por sua coragem na luta pela libertação do homem, sejam testemunhas de que Cristo ressuscitado é a esperança de um mundo novo, rezemos ao Senhor: Senhor, escutai a nossa prece!

Pelos que creem num futuro melhor, para que aceitem o sofrimento e também a morte como meios que preparam a renovação, rezemos ao Senhor:

Pelos povos em vias de desenvolvimento e pelos povos oprimidos, para que conheçam a liberdade, política e econômica, a autonomia cultural, a justiça e o progresso, rezemos ao Senhor:

Pela nossa comunidade, para que renovada pelo sacramento do perdão, encontre o entusiasmo das origens, rezemos ao Senhor:

Pelos adultos e as crianças que recebem hoje o batismo, para que sejam ajudados a crescer no conhecimento e no amor de Deus, rezemos ao Senhor:

Pelos nossos defuntos, para que participem desde já da vitória de Cristo sobre a morte, rezemos ao Senhor:

Preces espontâneas

Prefácio da Páscoa I:

Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças, sempre e em todo o lugar, mas, sobretudo neste dia em que Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. Ele é o verdadeiro Cordeiro, que tira o pecado do mundo. Morrendo, destruiu a morte, e, ressurgindo, deu-nos a vida. Transbordando de alegria pascal, nós nos unimos aos anjos e a todos os santos, para celebrar a vossa glória, cantando (dizendo) a uma só voz...

Oração sobre as Oferendas:

Transbordando de alegria pascal, nós vos oferecemos, ó Deus, o sacrifício pelo qual a vossa Igreja maravilhosamente renasce e se alimenta. Por Cristo, nosso Senhor.

Antífona da comunhão:

O Cristo, nossa Páscoa, foi imolado; celebremos a festa com pão sem fermento, o pão da retidão e da verdade, aleluia!

Oração Depois da Comunhão:

Guardai, ó Deus, a vossa Igreja sob a vossa constante proteção para que, renovados pelos sacramentos pascais, cheguemos à luz da ressurreição. Por Cristo, nosso Senhor.

Espiritualidade pascal

Dom Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro – RJ

Com a celebração do tríduo pascal culminando na vigília do sábado para domingo nós iniciamos o tempo pascal. Na realidade o evento pascal ilumina e motiva toda a vida cristã. É central em nossa espiritualidade. Por isso mesmo, “fazer Páscoa” anualmente é essencial para o cristão poder viver o seu dia a dia alimentado pela presença do Cristo Vivo e Ressuscitado.

O Tríduo Pascal é a celebração da Páscoa sob três dimensões: a da instituição da Eucaristia na Última Ceia, o sacrifício de Cristo na Cruz derramando o seu Sangue Precioso e a Sua presença Ressuscitado anunciando a vida que venceu a morte! Nós iniciamos na quinta feira santa à noite para concluirmos com a bênção final no sábado santo. E com essa celebração inicia a oitava da Páscoa abrindo o tempo pascal. Apesar de Jesus ter antecipadamente anunciado que seria preciso passar pela paixão antes de entrar em sua glória (cf. Lc 24,26), os discípulos não tinham conseguido assimilar toda a dimensão e o sentido dos fatos ligados à paixão e morte do Mestre. O mistério da morte é sempre difícil de ser compreendido, mesmo quando iluminado pela fé na ressurreição. Era preciso que o Cordeiro de Deus fosse imolado para entrar na glória (cf. Jo 1,29).

No querigma anunciado por Pedro na manhã de Pentecostes, fica evidente a vontade salvífica do Pai: “Deus, em seu desígnio e previsão, determinou que Jesus fosse entregue pelas mãos dos ímpios, e vós o matastes, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou, libertando-o das angústias da morte, porque não era possível que ela o dominasse” (cf. At 2,23-24). Cristo crucificado torna explícito o simbolismo da serpente de bronze no deserto (cf. Nm 21,4-9): “Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim” (cf. Jo 12,32).

A celebração da Páscoa nos convida a morrermos com Cristo para com ele entrarmos na vida nova por ele inaugurada (cf. Rm 6,8). O simbolismo nos conduz ao Batismo e à vida batismal, ao êxodo, ao retorno do exílio, a passagem do inverno para a primavera, porém agora atingindo a nova e eterna aliança no sangue de Cristo, vencendo o pecado que causa morte e levando a pessoa humana para a vida divina. A vivência do mistério pascal requer abandonar o velho fermento do pecado, da maldade, ou da iniquidade para nos tornar pães ázimos da sinceridade e da verdade (cf. 1Cor 5,7-8). Só então será possível inaugurar a vida nova com o novo fermento da graça e da fidelidade a Cristo.

Com a Páscoa, estamos no centro da espiritualidade cristã. Muitas pessoas pensam neste tempo apenas como se fosse um feriado prolongado! Acabam perdendo a oportunidade de celebrara Páscoa. Envolvida por esse ambiente consumista, a celebração da Páscoa, infelizmente, não constitui, para muitos cristãos, o acontecimento central de sua vida religiosa. Para tantos outros os eventos celebrados não passam de ritos tradicionais, quando muito acompanhados, mas não vivenciados. Falta-nos a iniciação “aos mistérios” de nossa fé! O respeito ao jejum, abstinência de carne já foi esquecido, bem como da contemplação e do silêncio na sexta-feira santa. Nesse mundo plural sabemos que as festa, as orgias continuam como se nada estivesse ocorrendo. E muitos dos que estão nessa vida foram um dia por nós batizados.

O mistério pascal constitui o fundamento e o centro, a chave de leitura do culto e da vida cristã. A liturgia, particularmente a Sagrada Eucaristia, é o memorial da morte e ressurreição de Cristo. Quando, na última Ceia, Jesus conclamou seus discípulos a fazerem o que ele fez – fazei isto em memória de mim – estabeleceu não apenas um rito comemorativo, mas um compromisso de fidelidade. Por isso, aclamamos: “Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a vossa vinda”.

Portanto, a ordem de Jesus “Fazei isto em memória de mim” vai muito além de mera repetição ritual comemorativa da Última Ceia: participamos realmente dos frutos da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Na Eucaristia Jesus se dá como alimento. Ele é o verdadeiro viático, isto é, o alimento da nossa peregrinação em busca do Reino definitivo. Quando celebramos o mistério da entrega total de Cristo por nós, nos comprometemos a dar nossa vida como oferta agradável ao Senhor. O Corpo dado por nós e o sangue por nós derramado selam nosso compromisso pessoal e definitivo de darmos também nós a vida por Cristo e pelos irmãos em vista da transformação da sociedade humana.

A páscoa de Cristo deve ser entendida como sinal e antecipação de um mundo novo, povoado por um povo novo num processo de regeneração universal. É o início do “oitavo dia”! Como discípulo de Cristo, o cristão deve ser novo fermento para nova humanidade. À medida que celebramos a vida nova interiorizamos o mistério pascal e nos tornamos templos novos do Senhor. Não nos encontramos com um deus impessoal, genérico, motor imóvel, mas com o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. É preciso subir das coisas inferiores para as superiores, das realidades exteriores às interiores (cf. Cl 3,1-2).

A espiritualidade pascal não se restringe ao tempo pascal. Necessariamente se expande por todo o ano litúrgico e se desdobra nas diferentes celebrações do mistério de Cristo, na certeza de que “se morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele. Sabemos que Cristo, ressuscitado dos mortos, não morre mais. A morte não tem mais poder sobre ele. Pois aquele que morreu, morreu para o pecado, uma vez por todas, e aquele que vive, vive para Deus. Assim, vós também, considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, no Cristo Jesus” (cf. Rm 6,8-11).

A espiritualidade pascal nos convoca constantemente renovar a nossa adesão a Cristo morto e ressuscitado por nós: a sua Páscoa é também a nossa Páscoa, porque em Cristo ressuscitado é nos dada a certeza da nossa ressurreição. A notícia da sua ressurreição dos mortos não envelhece e Jesus está sempre vivo; e vivo é o seu Evangelho. "A fé dos cristãos observa Santo Agostinho é a ressurreição de Cristo". Os Atos dos Apóstolos explicam-no claramente: "Deus ofereceu a todos um motivo de crédito com o fato de O ter ressuscitado dentre os mortos" (17, 31). A morte do Senhor demonstra o amor imenso com que Ele nos amou até ao sacrifício por nós; mas só a sua ressurreição é "prova certa", é certeza de que quanto Ele afirma é verdade que vale também para nós, para todos os tempos. Ressucitando-o, o Pai glorificou-o. São Paulo assim escreve na Carta aos Romanos: "Se confessares com a tua boca o Senhor Jesus e creres no teu coração que Deus O ressuscitou dentre os mortos, serás salvo" (10, 9).

A Páscoa é a exaltação ou glorificação do Crucificado. De fato, no Evangelho de João, Jesus exclama: "E quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim" (12, 32; cf. 3, 14; 8, 28). No hino inserido na Carta aos Filipenses, depois de ter descrito a profunda humilhação do Filho de Deus na morte de cruz, Paulo celebra assim a Páscoa: "Por isso é que Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todo o nome, para que ao nome de Jesus, todo o joelho se dobre nos Céus, na Terra e nos Infernos, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor para glória de Deus Pai" (2, 9-11). Que a espiritualidade pascal nos insira na vivência das alegrias do Ressuscitado! Feliz Páscoa! [Fonte: CNBB]

Páscoa do Senhor, nova criação e novo êxodo

Hoje ressoa na Igreja o anúncio pascal: Cristo ressuscitou; ele vive para além da morte; é o Senhor dos vivos e dos mortos.

Na noite mais clara que o dia" a palavra onipotente de Deus que criou os céus e a terra e formou o homem à sua imagem e semelhança chama a uma vida imortal o homem novo, Jesus de Nazaré, filho de Deus e filho de Maria.

Realiza-se a grande e secreta

esperança da humanidade

Nele, a semente da vida divina, depositada inicialmente na criatura, atinge uma maturação pessoal única, porque nele habita a plenitude da divindade, a do Filho Unigênito. A humanidade vê realizada, por dom de Deus, a grande e secreta esperança: uma terra e céus "novos", um mundo sem luto e sem lágrimas, paz e justiça, alegria e vida sem sombra e sem fim.

Tudo isto, porém, não é visível; só aos olhos de quem crê é dado discernir os traços da nova criatura que se está formando na obscuridade e no trabalho da existência terrena. A morte é vencida pela morte livremente aceita por Jesus; mas ela continua a agir até que tudo seja cumprido. O pecado é vencido pelo sacrifício do inocente; mas o "mistério da iniquidade acompanha a existência humana até o último dia. No Senhor ressuscitado, a morte e o pecado encontram um sentido aceitável, inserem-se num desígnio cheio de sabedoria e de amor, não mais causam medo, porque pertencem ao velho mundo de que fomos libertados.”

Um povo de homens livres caminha para a vida

Ao contrário da vida natural, que nos é dada sem nosso consentimento, na nova existência só se pode entrar com uma adesão consciente e livre à proposta de renascer através da conversão e do batismo. (Isto é evidente no caso dos adultos; quanto às crianças, batizadas na fé dos pais e da comunidade, o caso é análogo ao primeiro dom da vida, em que a resposta pessoal amadurece graças à educação). Assim, para cada um dos que creem, a Páscoa é a passagem de um modo de viver para outro; é saída do Egito e imersão no mar Vermelho e caminho pelo deserto até a terra da promessa. Em uma palavra, é o êxodo "deste mundo ao Pai" (cf Jo 13,1; Lc 9,31), em seguimento do Cristo, cabeça do novo povo, animado pelo sopro vital do seu Espírito. Batizados na sua morte e ressurreição, devemos começar a "caminhar em novidade de vida" de filhos de Deus. O nosso "êxodo" coincide com a duração da vida, até a maturidade, até a última "passagem" da morte; o nosso crescimento se dá conforme a correspondência à lei da vida divina em nós, isto é, do amor. Aqui está toda a moral "pascal"; não numa série de preceitos, mas num só mandamento, formulado para cada pessoa e para cada comunidade na variedade das situações de um diálogo incessante entre o Pai e os filhos; encontrando nossa alegria, como Cristo, na sintonia com os seus planos de salvação; abandonando para trás, como Cristo, as formas caducas da religiosidade natural, para viver na fé, oferecendo toda a nossa pessoa como sacrifício espiritual; como Cristo, fiéis ao Pai e fiéis ao homem.

O homem novo, segundo o plano de Deus

Porque "o homem novo é o homem verdadeiro, assim como Deus o concebeu desde toda a eternidade, é o homem fiel à vocação de homem. O homem novo não é "outro" homem, alienado da condição terrestre para ser posto num paraíso qualquer. A oposição se acha entre o pecado e a graça; o homem velho vive na ilusão de poder realizar seu destino incorrendo unicamente a seus recursos; o homem novo realiza perfeitamente a vontade de Deus, único que pode admiti-lo à condição "filial"; sabe que o conteúdo da sua fidelidade à vocação recebida reside na obediência à condição terrena até a morte; sabe que este "sim" de criatura constitui o suporte necessário do "sim" do filho adotivo de Deus" (J. Frisque). Esta é a "novidade" de que os cristãos são "testemunhas" no mundo. [Missal Dominical, ©Paulus, 1995]

À escuta da palavra:Ele viu e acreditou”

O discípulo que Jesus amava viu aquilo que Simão Pedro via: um túmulo vazio, com as ligaduras e o sudário… Mas João crê. Porquê esta diferença na atitude dos dois discípulos? O amor de Pedro por Jesus era grande. Mas com a tríplice negação, o seu amor tinha necessidade de ser confirmado, purificado, perdoado. João, ele, o único entre os apóstolos, ficou até ao fim. Deixou-se invadir por um amor sem falha. Na última Ceia, tinha sentido de mais perto bater o coração do Senhor. Diante do túmulo vazio, ele sabe que se trata de algo de infinitamente mais misterioso, mais decisivo. Muitos homens não tiveram fé no testemunho dos apóstolos. É este amor que nos faz ver para lá das aparências e que queimava o coração de João. “Para vós, pergunta-nos sempre Jesus, quem sou Eu?” [Dehonianos de Portugal]

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