segunda-feira, 25 de abril de 2011

Santa Maria de Santa Eufrásia Pelletier


Rosa Virginia Pelletier viu a luz em Noirmoutier, França, a 31 de Julho de 1796, filha de um médico piedoso e caritativo, que morreu quando a nossa Santa, seu oitavo filho, não tinha mais de dez anos. Colocada como interna num colégio de Ursulinas, e depois em Tours numa comunidade religiosa em formação, Rosa não ocultou o seu desejo de abraçar mais tarde o caminho dos conselhos evangélicos. Sendo jovem muito alegre, mas distintíssima e muito ponderada, orientou-se, no meio das provas dirigidas pelas suas mestras, para a congregação do Refúgio ou do Bom Pastor, fundada em 1641 por S. João Eudes.
A Irmã Maria de Santa Eufrásia - tinha 19 anos - aplicava-se principalmente a meditar a Sagrada Escritura, mas também a examinar os pormenores da organização do instituto e dos seus progressos possíveis. O que tinha em vista, e realizou quando foi eleita superiora em 1825, era o ramo das Madalenas, distinto das Penitentes e das Preservadas, constituindo verdadeira congregação de Religiosas recrutadas sobretudo entre as arrependidas.
Os oito anos que decorreram entre a profissão religiosa da Irmã Maria e a sua eleição foram utilizados em penetrar a psicologia das penitentes: "Tratava essas jovens como se visse em cada uma tanta delicadeza e boa vontade, como ela pela sua parte lhes mostrava". Foi durante os seus dois triénios que a Madre Maria de Santa Eufrásia organizou as suas Madalenas: encerradas como todas as outras internas, viviam à parte e seguindo uma vida dura; rezavam o oficio e recebiam direcção espiritual apropriada. O empenho da superiora não a isentava de melhorar o vestuário, a alimentação e as instalações do seu rebanho. Em Tours havia então, em 1830, 70 penitentes, 12 madalenas e 80 órfãs que requeriam ser preservadas. O pensamento que guiara a Madre Eufrásia na giosa: uma vida de oração, como a que ela propunha às Madalenas, "valia mais que mil belas palavras das irmãs, destinadas a converter essas pobres raparigas". Para além mesmo desta iniciativa, o espírito de fé da Madre Pelletier teve sempre de exercitar-se, pois os reveses não faltaram: os traficantes da inocência feminina provocaram repetidamente revoltas ou ataques contra as religiosas. As desordens de 1830 causaram a partida de bastantes noviças; mesmo a natureza da obra não deixava de exigir, da parte dos protetores, certa confiança na superiora; mas não deixava de haver hesitações em a oferecer às cegas. E os superiores eclesiásticos, temendo que a autoridade que tinham não fosse respeitada ao tratar-se de instituir um posto de superiora geral, não reservaram a oposição que sentiam. "Os princípios em Angers (lá se tinha ela fixado em 1831) foram muito custosos: sem móveis, sem cobertores, sem vestuários, por vezes sem alimentação, ficámos um ano sem Missa, fora do domingo e da quinta-feira. O Senhor Bispo tinha o ar de não saber da nossa existência, e outras pessoas, que desejavam fazer-nos bem, julgavam que nós éramos riquíssimas!" Mas o santo fervor não desfaleceu nunca. A Madre escrevia depois das espoliações e perseguições de 1848: "As lágrimas correm às torrentes, mas a paz mantém-se... O Pai de família vem semear entre nós cruzes bem pesadas: é para que, desenvolvendo-se em nós mais profundamente as raízes da humildade, nos possamos desenvolver e elevar-nos mais e mais".
A virtude cardeal da fortaleza explodiu na Santa quando, tendo-se a congregação desenvolvido, foi preciso pensar em dar-lhe organização canónica definitiva. Tendo consciência do papel mundial do seu instituto, a fundadora pretendia colocá-lo sob a protecção da Santa Sé e para isto ligá-lo diretamente a Roma, de maneira que nenhum bispo pudesse mudar fosse o que fosse nas constituições.
Apoiada no bispo de Angers e apesar da oposição de uma dúzia de bispos franceses, a Madre Pelletier conseguiu obter do papa Gregório XVI que desse à congregação um cardeal protector. O cardeal Odescalchi - tinha contribuído para a restauração beneditina e dominicana na França e não havia quem o não considerasse homem santíssimo - veio a ficar superior geral. O desenvolvimento magnífico do Instituto, a partir deste ano de 1835, exigiu que a Madre Maria de Santa Eufrásia exercesse uma vigilância e uma actividade de cada momento; a unidade da obra - do seu espírito e dos esforços - tinha de manter-se. A formação de mais de uma centena de noviças exigia sobretudo muita solicitude maternal; isto para não falar das fundações na Europa, na África e na América, e dos cuidados que as tinham de acompanhar. A Santa dedicava a tudo isto valentia, gozo sobrenatural profundo e abandono nas mãos de Deus, admirável. "Tendo concebido todas as nossas na Cruz, amo-as acima da minha própria vida; depois, este amor está baseado em Deus e no conhecimento da minha miséria, pois reconheço que, se tivesse tanto tempo de profissão como elas, não suportaria nem as privações nem os trabalhos que elas suportam".
Como os Santos todos, também a Madre Pelletier foi alma de muita oração. A atividade incansável não a impediu de se elevar até alto grau de união mística. "Quando não tiverdes senão Deus, minhas queridas Filhas, a vossa oração será mais pura, a vossa prece mais fervorosa... Eu consentiria em estar muito tempo privada da felicidade do Céu, contanto que, na terra, tivesse Nosso Senhor para amar na Eucaristia e almas para salvar... Ah! minhas Filhas, quanta fé nos dão as cruzes!".
A ela se deve a Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor de Angers, também viva em Portugal. Em 1868, uma crise de figado e um cancro só tarde descoberto venceram as forças da Madre. A 24 de Abril, separou-se a alma do corpo, que iria ficar sem corrupção aparente durante várias dezenas de anos: "Sinto Deus em mim e a sofrer comigo".
Foi Pio XII quem a canonizou, a 2 de Maio de 1940.

Comentários sobre a fisionomia de Santa Maria Eufrásia Pelletier

Quando se sabe prezar mais os valores do espírito do que os do corpo, envelhecer é crescer no que o homem tem de mais nobre, que é a alma, se bem que signifique a decadência do corpo, que é apenas o elemento material da pessoa humana.

E que decadência! Bem pode ser que o corpo perca sua beleza e seu vigor. Mas ele se enriquece com a transparência de uma alma que ao longo da vida soube desenvolver-se e crescer. Transparência esta que constitui a mais alta beleza de que a fisionomia humana seja capaz.


Santa Maria Eufrásia Pelletier, nascida na Vandéa, França, em 1796, fundadora de uma Congregação docente feminina, faleceu em 1868. Sua festa se celebra no dia 24 de abril.

Nada do que significa formosura lhe faltou na mocidade: a correção dos traços, a beleza dos olhos e da cútis, a distinção da fisionomia, a nobreza do porte, o viço e a graça da juventude. Mais: o esplendor de uma alma clara, lógica, vigorosa, pura, se exprimia fortemente em sua face. É o tipo magnífico da donzela cristã.

Ei-la em sua ancianidade. Do encanto dos antigos dias resta apenas um vago perfume. Mas outra formosura mais alta brilha neste semblante admirável.

O olhar ganhou em profundeza; uma serenidade nobre e imperturbável parece prenunciar nele algo da nobreza transcendente e definitiva dos bem-aventurados na glória celeste!

O rosto conserva o vestígio das batalhas árduas da vida interior e apostólica dos Santos. Atingiu algo de forte, de completo, de imutável: é a maturidade no mais belo sentido da palavra.

A boca é um traço retilíneo, fino, expressivo, que traz a nota típica de uma têmpera de ferro. Uma grande paz, uma bondade sem romantismo nem ilusão, com algum resto da antiga beleza, esplende ainda nesta fisionomia.

O corpo decaiu, mas a alma cresceu tanto, que já está toda em Deus, e faz pensar na palavra de Santo Agostinho: nosso coração, Senhor, foi criado para Vós, e só está em paz quando repousa em Vós.

Quem ousaria afirmar que para Santa Maria Eufrásia, envelhecer foi mesmo decair?

Aspirações de Santa Maria Eufrásia

Ó meu Deus, fazei que cada batida de meu coração seja uma súplica para alcançar graça e perdão para os pecadores.
Que cada uma de minhas respirações seja um apelo à Tua infinita misericórdia,
que cada olhar meu, atraia para Vós as pessoas que eu fitar e lhes revele o Teu amor.
Que o alimento de minha vida seja trabalhar sem descanso pela Tua glória e pela salvação das almas. Amém.

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