domingo, 3 de abril de 2011


Domingo, 3 de abril de 2011

IV Semana da Quaresma, Ano “A” 4ª Semana do Saltério (II Volume), cor Litúrgica Roxa

Santos: Pancrácio de Taormina (bispo e mártir), Sixto ou Sisto I (papa e mártir), Ágape (virgem e mártir), Ciônia (virgem e mártir), Irene (virgem e mártir), Burgundofara ou Fara (virgem), Nicetas (abade), Ricardo de Chichester (bispo), Gandolfo de Binasco (beato franciscano, confessor, 1ª ordem), João de Penna (beato).

Antífona: Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações. (Is 66, 10-11)

Oração do Dia: Ó Deus, que, por vosso Filho, realizais de modo admirável a reconciliação do gênero humano, concedei ao povo cristão correr ao encontro das festas que se aproximam cheio de fervor e exultando de fé. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

I Leitura: I Samuel (1Sm 16, 1b. 6-7. 10-13a)

Davi é ungido reio de Israel

Naqueles dias, o Senhor disse a Samuel: 1"Enche o chifre de óleo e vem para que eu te envie à casa de Jessé de Belém, pois escolhi um rei para mim entre os seus filhos". 6Assim que chegou, Samuel viu a Eliab e disse consigo: "Certamente é este o ungido do Senhor!" 7Mas o Senhor disse-lhe: "Não olhes para a sua aparência nem para a sua grande estatura, porque eu o rejeitei. Não julgo segundo os critérios do homem: o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração".

10Jessé fez vir seus sete filhos à presença de Samuel, mas Samuel disse: "O Senhor não escolheu a nenhum deles". 11E acrescentou: "Estão aqui todos os teus filhos?" Jessé respondeu: "Resta ainda o mais novo que está apascentando as ovelhas". E Samuel ordenou a Jessé: "Manda buscá-lo, pois não nos sentaremos à mesa enquanto ele não chegar". 12Jessé mandou buscá-lo. Era Davi, ruivo, de belos olhos e de formosa aparência. E o Senhor disse: "Levanta-te, unge-o: é este!" 13Samuel tomou o chifre com óleo e ungiu a Davi na presença de seus irmãos. E a partir daquele dia o espírito do Senhor se apoderou de Davi. Palavra do Senhor!

Comentando a I leitura

Deus não leva em conta as aparências

Na tradição bíblica, Davi é um dos personagens mais lembrados pelo povo. Ao redor de seu nome criou-se verdadeiro movimento. É a figura do governante “segundo o coração de Deus”, rei que segue a justiça e não despreza os pobres. A primeira leitura deste quarto domingo da Quaresma narra a eleição de Davi.

Samuel foi um dos últimos juízes de Israel. Viveu a fase conflituosa de transição entre o tribalismo e a monarquia. É um homem de Deus. Sofre muito quando o povo pede a mudança de regime (cf. 1Sm 8). Conforme o mandato divino, busca reconhecer, entre vários irmãos, qual seria o escolhido para governar o povo. Após analisar os sete filhos de Jessé, Samuel declara que nenhum deles havia sido chamado por Deus. O menor deles, ausente por estar cuidando do rebanho, é o eleito. A unção é o meio pelo qual se confere uma missão sagrada. É significativa a transmissão do cargo realizada por Samuel. Tendo a função de juiz de Israel, transmite a Davi o que ele próprio considera ser vontade divina. O governo deve ser realizado sob a autoridade de Deus.

A eleição de Davi é uma narrativa popular que transmite importante conteúdo teológico e sociológico. Deus não se deixa conduzir pelas aparências. Ele conhece o coração de cada pessoa e, por isso, chama os que se encontram em último lugar para realizar o seu plano na história. Como dirá Jesus: “Muitos dos primeiros serão últimos, e muitos dos últimos, primeiros” (Mt 19,30). Sociologicamente, é um texto de denúncia ao poder monárquico e de valorização dos caminhos alternativos que emergem com a mobilização dos pequenos e marginalizados. (Celso Loraschi, Vida Pastoral nº 277, Paulus)

Salmo: 23 (22), 1-3a. 3b-4. 5. 6 (R/. 1)

O Senhor é o pastor que me conduz; não me falta coisa alguma

1O Senhor é o pastor que me conduz; não me falta coisa alguma. 2Pelos prados e campinas verdejantes ele me leva a descansar. Para as águas repousantes me encaminha, 3ae restaura as minhas forças.

3bEle me guia no caminho mais seguro, pela honra do seu nome. 4Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei. Estais comigo com bastão e com cajado, eles me dão a segurança!

5Preparais à minha frente uma mesa, bem à vista do inimigo; com óleo vós ungis minha cabeça, e o meu cálice transborda.

6Felicidade e todo bem hão de seguir-me, por toda a minha vida; e, na casa do Senhor, habitarei pelos tempos infinitos.

II Leitura: Paulo aos Efésios (Ef 5, 8-14)

Como filhos da luz

Irmãos, 8outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz. 9E o fruto da luz chama-se: bondade, justiça, verdade. 10Discerni o que agrada ao Senhor. 11Não vos associeis às obras das trevas, que não levam a nada; antes, desmascarai-as. 12O que essa gente faz em segredo, tem vergonha até de dizê-lo. 13Mas tudo que é condenável torna-se manifesto pela luz; e tudo o que é manifesto é luz. 14É por isso que se diz: "Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá". Palavra do Senhor!

Comentando a II Leitura

Viver como filhos da luz

São Paulo, em seus escritos, dedica-se de modo muito especial à tarefa de aprofundar a vida nova que provém da fé em Jesus Cristo. O texto da carta aos Efésios é reflexo dessa teologia paulina. Demonstra a preocupação de manter a comunidade cristã no caminho do amor, “do mesmo modo como Cristo amou e se entregou por nós a Deus” (5,1).

Existem dois caminhos: o das trevas e o da luz. O caminho das trevas era bem conhecido pelos cristãos de Éfeso. Pelo que se constata ao ler o texto, muitos deles, antes de sua adesão a Jesus Cristo, experimentaram um modo de viver alicerçado no egoísmo, na avareza, na fornicação e em outras coisas vergonhosas que expressam uma vida nas “trevas”.

O caminho da luz se manifesta por uma vida em Cristo. Ele não só andou como filho da luz, mas revelou-se como a Luz verdadeira. Ele não somente assumiu atitudes de amor, mas é a essência do amor. A pessoa unida a ele também é filha da luz: sabe discernir “o que é agradável ao Senhor” e produz “frutos de bondade, justiça e verdade”. Quem se decide a seguir a Jesus não só rompe com as “obras infrutuosas das trevas”, como também exerce a função profética de denúncia dessas obras. O que é mau e feito às ocultas deve ser trazido à luz, a fim de que se torne manifesto ao público e seja corrigido para o bem de todos. Quem segue a Jesus jamais pode ser cúmplice da maldade, da corrupção, da mentira...

Jesus nos fez participantes da sua própria natureza divina. Portanto, tal como viveu Jesus – a Luz de Deus no mundo –, também nós temos a graça de viver de tal modo, que a luz divina brilhe no mundo por meio da inteireza do ser e da retidão do agir. (Celso Loraschi, Vida Pastoral nº 277, Paulus)

Evangelho: João (Jo 9, 1-41) ou a forma breve: Jo 1.6-9.13-17.34-38

O cego foi, lavou-se e voltou enxergando

Naquele tempo, 1ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença. 2Os discípulos perguntaram a Jesus: "Mestre, quem pecou para que nascesse cego: ele ou os seus pais?" 3Jesus respondeu: "Nem ele nem seus pais pecaram, mas isso serve para que as obras de Deus se manifestem nele. 4É necessário que nós realizemos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia. Vem a noite, em que ninguém pode trabalhar. 5Enquanto estou no mudo, eu sou a luz do mundo". 6Dito isto, Jesus cuspiu no chão, fez lama com a saliva e colocou-a sobre os olhos do cego. 7E disse-lhe: "Vai lavar-te na piscina de Siloé" (que quer dizer: enviado). O cego foi, lavou-se e voltou enxergando.

8Os vizinhos e os que costumavam ver o cego - pois ele era mendigo - diziam: "Não é aquele que ficava pedindo esmola?" 9Uns diziam: "Sim, é ele!" Outros afirmavam: "Não é ele, mas alguém parecido com ele". Ele, porém, dizia: "Sou eu mesmo!". 10Então lhe perguntaram: "Como é que se abriram os teus olhos?" 11Ele respondeu: "Aquele homem chamado Jesus fez lama, colocou-a nos meus olhos e disse-me: 'Vai a Siloé e lava-te'. Então fui, lavei-me e comecei a ver". 12Perguntaram-lhe: "Onde está ele?" Respondeu: "Não sei".

13Levaram então aos fariseus o homem que tinha sido cego. 14Ora, era sábado, o dia em que Jesus tinha feito lama e aberto os olhos do cego. 15Novamente, então, lhe perguntaram os fariseus como tinha recuperado a vista. Respondeu-lhes: "Colocou lama sobre meus olhos, fui lavar-me e agora vejo!" 16Disseram, então, alguns dos fariseus: "Esse homem não vem de Deus, pois não guarda o sábado". Mas outros diziam: "Como pode um pecador fazer tais sinais?" 17E havia divergência entre eles. Perguntaram outra vez ao cego: "E tu, que dizes daquele que te abriu os olhos?" Respondeu: "É um profeta". 18Então, os judeus não acreditaram que ele tinha sido cego e que tinha recuperado a vista.

Chamaram os pais dele 19e perguntaram-lhes: "Este é o vosso filho, que dizeis ter nascido cego? Como é que ele agora está enxergando?" 20Os seus pais disseram: "Sabemos que este é nosso filho e que nasceu cego. 21Como agora está enxergando, isso não sabemos. E quem lhe abriu os olhos também não sabemos. Interrogai-o, ele é maior de idade, ele pode falar por si mesmo". 22Os seus pais disseram isso, porque tinham medo das autoridades judaicas. De fato, os judeus já tinham combinado expulsar da comunidade quem declarasse que Jesus era o messias. 23Foi por isso que seus pais disseram: "É maior de idade. Interrogai-o a ele". 24Então, os judeus chamaram de novo o homem que tinha sido cego. Disseram-lhe: "Dá glória a Deus! Nós sabemos que esse homem é um pecador". 25Então ele respondeu: "Se ele é pecador, não sei. Só sei que eu era cego e agora vejo . 26Perguntaram-lhe então: "Que é que ele te fez? Como te abriu os olhos?" 27Respondeu ele: "Eu já vos disse, e não escutastes. Por que quereis ouvir de novo? Por acaso quereis tornar-vos discípulos dele?" 28Então insultaram-no, dizendo: "Tu, sim, és discípulo dele! Nós somos discípulos de Moisés. 29Nós sabemos que Deus falou a Moisés, mas esse, não sabemos de onde é". 30Respondeu-lhes o homem: "Espantoso! Vós não sabeis de onde ele é? No entanto, ele abriu-me os olhos! 31Sabemos que Deus não escuta os pecadores, mas escuta aquele que é piedoso e que faz a sua vontade. 32Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. 33Se este homem não viesse de Deus, não poderia fazer nada". 34Os fariseus disseram-lhe: "Tu nasceste todo em pecado e estás nos ensinando?" E expulsaram-no da comunidade.

35Jesus soube que o tinham expulsado. Encontrando-o, perguntou-lhe: "Acreditas no Filho do Homem?" 36Respondeu ele: "Quem é, Senhor, para que eu creia nele?" 37Jesus disse: "Tu o estás vendo; é aquele que está falando contigo". Exclamou ele:38"Eu creio, Senhor!" E prostrou-se diante de Jesus. 39Então, Jesus disse: "Eu vim a este mundo para exercer um julgamento, a fim de que os que não vêem, vejam, e os que vêem se tornem cegos". 40Alguns fariseus, que estavam com ele, ouviram isto e lhe disseram: "Porventura, também nós somos cegos?" 41Respondeu-lhes Jesus: "Se fôsseis cegos, não teríeis culpa; mas como dizeis: 'Nós vemos', o vosso pecado permanece". Palavra da Salvação!

Comentando o Evangelho

Jesus é a luz do mundo


O Evangelho de João aprofunda a identidade de Jesus narrando sete sinais. Um deles é a cura de um cego de nascença. Esse sinal reflete o debate existente nas comunidades joaninas entre os cristãos e o grupo de judeus apegados ao legalismo religioso. Conforme podemos perceber no texto, a cegueira era considerada um castigo divino, seja pelos pecados da pessoa, seja pelos de seus antepassados. Um dos agravantes muito sérios para o cego era o seu impedimento de ler a Sagrada Escritura e estudar a Lei, sendo, por isso, considerado um ignorante da vontade de Deus.

Segundo o mesmo Evangelho de João, Jesus veio “para que todos tenham vida e vida em abundância” (10,10). Sua prática não está atrelada à ideologia da pureza dos líderes religiosos judaicos. Ele conhece suas intenções e seus interesses: “São cegos guiando outros cegos” (Mt 15,14). Diante da pergunta sobre “quem pecou”, Jesus procura também “abrir os olhos” dos próprios discípulos, pois também eles estão contaminados com a ideologia dos doutores da Lei. Em vez de achar um culpado, Jesus põe a situação da cegueira em relação direta com o plano de Deus, que resgata a dignidade do ser humano. As “obras de Deus” são realizadas agora por Jesus, a Luz do mundo. Acontece em Jesus o que foi anunciado pelo profeta Isaías, quando este se referiu ao “Servo de Javé” como “luz das nações” (Is 49,6).

Jesus, em caminhada, vê o cego de nascença e toma a iniciativa de curá-lo. Ele o faz por meio da junção de dois elementos: a terra e a saliva. Formam o barro, que lembra a criação do ser humano, conforme descreve o livro do Gênesis: “Deus modelou o homem do barro” (2,7). A ação de Jesus visa recriar a pessoa, oferecendo-lhe nova vida. Conforme o pensamento da época, a saliva transmite a energia vital da pessoa. Portanto, a energia divina de Jesus possibilita a cura.

A graça divina, porém, não exclui o empenho humano. A cura e a libertação que Deus oferece não se dão de modo mágico. O cego deverá seguir a palavra de Jesus e lavar-se na piscina de Siloé, que significa “Enviado”. É convidado a aceitar livremente a luz que Jesus lhe oferece. Seguir o caminho apontado por Jesus significa entrar no processo de conquista de liberdade e autonomia. De fato, o cego recuperará a visão e também a capacidade de pronunciar livremente as próprias palavras, já não oprimido pelo legalismo dos fariseus e também já não dependente de seus pais, representativos da tradição que buscava “segurar” sob sua guarda os filhos de Israel. A conquista da visão verdadeira passa por processos de conflitos e crises, pois mexe com as concepções dominantes. Uma pessoa livre, conduzida por profundas convicções, torna-se ameaça para o poder constituído, pois este procura impor “obrigações”, mantendo a consciência do povo alienada.

O cego de nascença, junto com a recuperação da vista, recebe de Jesus o dom da fé e torna-se seu discípulo. No relato de sua cura aparece, várias vezes, o verbo “nascer”. Demonstra íntima ligação com o episódio do encontro de Nicodemos com Jesus, que lhe indica o caminho do “novo nascimento”. Podemos, então, discernir em que consiste a recuperação da verdadeira visão: é renascer, pela fé, acolhendo a Jesus e deixando-se conduzir pela sua palavra: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,32). A tradição cristã vai interpretar o ato de lavar-se na piscina de Siloé como o símbolo da regeneração cristã pelo batismo. (Celso Loraschi, Vida Pastoral nº 277, Paulus)


Comentário ao Evangelho do dia feito por :




Santo Efrém (c. 306-373), diácono na Síria, Doutor da Igreja
Comentário do Diatesseron, 16, 28-31 (a partir da trad. SC 121, pp. 299ss.)

«Eu vim a este mundo para proceder a um juízo: de modo que os que não vêem vejam»


«Fez lama com a saliva e ungiu-lhe os olhos». E a luz jorrou da terra, como no começo, quando [...] as trevas cobriam o abismo e o espírito de Deus Se movia sobre a superfície das águas. Deus disse: «Faça-se a luz» e a luz foi feita (Gn 1, 2-3). Assim, curou um defeito que existia desde a nascença, para mostrar que Ele, cuja mão terminava aquilo que faltava à natureza, era Aquele que, com a Sua mão, tinha dado origem à Criação, no princípio. E como se recusavam a crer que Ele era antes de Abraão (Jo 8, 57), provou com esta acção que era o Filho d'Aquele que, com a Sua mão, «formou o homem do pó da terra» (Gn 2, 7).


Ele fez isso para aqueles que procuravam os milagres a fim de acreditarem: «Os judeus pedem sinais» (1Cor 1, 22). Não foi a piscina de Siloé que abriu os olhos ao cego, tal como não foram as águas do Jordão que purificaram Naamã (2Rs 5, 14): foi a ordem do Senhor que realizou tudo. Mais do que isso, não é a água do nosso baptismo, mas os nomes da Trindade que se pronunciam sobre ela que nos purificam. Ele ungiu-lhe os olhos com lama, para que os fariseus pudessem limpar a cegueira do seu coração. [...] Aqueles que viam a luz física foram conduzidos por um cego que via a luz do espírito; e, na sua noite, o cego era conduzido por aqueles que viam exteriormente, mas que eram espiritualmente cegos.


O cego lavou a lama dos seus olhos e viu-se a si próprio; os outros lavaram a cegueira do coração, e examinaram-se a si mesmos. Assim, ao abrir exteriormente os olhos dum cego, Nosso Senhor abria secretamente os olhos de muitos outros cegos. [...] Nestas poucas palavras do Senhor estavam escondidos tesouros admiráveis e, nesta cura, estava esboçado um símbolo: Jesus, o Filho do Criador.

Oração da assembleia (Missal Dominical)

Vimos Deus, através do seu enviado Jesus, iluminar os olhos do corpo e do espírito. Dirijamo-nos a ele com confiança: Dai-nos, Senhor, a vossa luz!

-Para não nos deixemos enganar pelas aparências, e nossas ações sejam sempre coerentes com nossa fé, rezemos ao Senhor.

-Para que, sem presunção, sejamos compreensivos e fraternos para com os que estão nas trevas da ignorância ou do erro, no campo religioso ou na vida cotidiana, rezemos ao Senhor.

-Para que multipliquem as pesquisas e iniciativas em favor dos que são atingidos pela cegueira ou incapacitados para qualquer atividade ou para a vida na sociedade, rezemos ao Senhor.

-Pelos que evangelizam, para que, renunciando a seus próprios pontos de vista, apresentem claramente a doutrina da Igreja e conduzam ao encontro pessoal com Jesus, rezemos ao Senhor.

-Outras intenções

Prefácio (o cego de nascença):

Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças, em todo lugar, Senhor, Pai santo, Deus eterno e todo-poderoso, por Cristo, Senhor nosso. Pelo mistério da encarnação, Jesus conduziu à luz da fé a humanidade que caminhava nas trevas. E elevou à dignidade de filhos e filhas os escravos do pecado, fazendo-os renascer das águas do Batismo. Por essa razão, com os anjos e com todos os santos, entoamos um cântico novo, para proclamar vossa bondade, cantando (dizendo) a uma só voz:

Oração sobre as Oferendas:

Ó Deus, concedei-nos venerar com fé e oferecer pela redenção do mundo os dons que nos salvam e que vos apresentamos com alegria. Por Cristo, nosso Senhor.

Antífona da comunhão:

O Senhor ungiu os meus olhos. Fui e lavei-me; comecei a ver e acreditei em Deus. (Cf Jo 9,11)

Oração Depois da Comunhão:

Ó Deus, luz de todo ser humano que vem a este mundo, iluminai nossos corações com o esplendor da vossa graça, para pensarmos sempre o que vos agrada e amar-vos de todo o coração. Por Cristo, nosso Senhor.

Cristo, luz para nossas trevas

Como a água, também a luz - com seu oposto, a escuridão - é um dos símbolos fundamentais da existência humana e da reflexão religiosa. No relato do Gênesis, Deus, pela criação da luz e sua separação das trevas, põe ordem e distinção no caos primitivo, e o torna um cosmos cognoscível e depois habitável.

Na plenitude dos tempos, a Palavra de Deus veio habitar no meio de nós. Vida e luz de todo ser vivo, ela ilumina com nova luz aquele que crê na Palavra feita homem, na mensagem tornada pessoa viva, concreta e histórica, no Filho do Deus invisível que dá a conhecer o Pai. Esses são os grandes temas desenvolvidos por João desde o prólogo do seu evangelho, e ilustrados através de uma série de "sinais", diante dos quais só há uma alternativa: responder sim ou não, sem atenuantes.

A luz do nosso batismo

Acolher a luz significa crer naquele que o Pai enviou, reconhecer que suas obras vêm de Deus, entrar na vida nova mediante os sinais sacramentais e assim, pela fé, as obras e os ritos, participar da sua ressurreição, vitória da luz sobre as trevas, do bem sobre o mal, da vida sobre a morte.

No batismo, de que a água da fonte de Siloé é figura, recebemos a luz que nos faz filhos de Deus, e somos "iluminados". "Quando um homem nasce para a vida nova é imediatamente libertado das trevas e a partir desse momento recebe a luz. É o mesmo que acontece quando de repente acordamos; ou melhor, é o que sucede com quem quer retirar a catarata dos próprios olhos: não deverá buscar fora a luz que não tem, mas terá que libertar a pupila, afastando aquilo que impede a visão. Do mesmo modo, também nós, como batismo, somos purificados dos pecados, que como uma nuvem velavam o Espírito divino, e assim o olho do espírito se torna transparente e luminoso e nos faz contemplar as coisas divinas: o Espírito Santo desce, então, do alto sobre nós" (Clemente de Alexandria). A escolha da luz tem também um valor profético e escatológico: o juízo já está presente, mas será explícito e definitivo quando resplandecer a glória do Ressuscitado; quem crê já está salvo desde agora; quem não crê - porque não quer ver - permanece em seu pecado.

"Comportai-vos como filhos da luz"

A situação dos cristãos no tempo presente recebe luz desta página do evangelho e da exortação paulina, que é um comentário e uma aplicação do mesmo. Batizados no Cristo Jesus, passamos das trevas para a luz. Vemos o sentido da nossa vida e do destino do mundo à luz de Cristo, somos chamados a crescer numa perfeita comunhão de vida com Deus, a escolher e a viver - como Cristo - a vontade do Pai. Não podemos agir como os que não sabem; não podemos esconder-nos da luz que nos foi dada, sem assim nos comprometermos com um destino de trevas eternas; não podemos recusar professar nossa fé e agir "com toda bondade, justiça e verdade" (2ª leitura). O testemunho da luz é a resposta consciente, livre e cheia de amor aquele que iluminou nossos olhos com a luz sem ocaso.

Os olhos do homem se tornam mais opacos

Estamos assistindo hoje a um fenômeno estranho; enquanto os olhos da ciência se tornam mais luminosos, tornam-se mais opacos os olhos do homem.

Nossos objetivos científicos, econômicos, políticos são mais distintos e precisos: atravessamos barreiras jamais violadas pelo olho do homem em todos os campos do saber positivo; nossos conhecimentos crescem em ritmo vertiginoso; existem cérebros eletrônicos para imaginá-los e impe­dir que nos percamos num labirinto tão vasto e complexo.

Mas o homem se torna cada vez menos claro, cada vez mais indecifrável a si mesmo. "O homem é um cigano perdido num universo enregelado que lhe é totalmente indiferente" (Monod, prêmio Nobel de medicina). Parece que o mistério do homem se fecha num horizonte de trevas, sem que um raio de luz possa filtrar-se entre as redes do mistério.

Só Cristo consegue lançar luz sobre essas trevas.

O batismo - que é "iluminação"- significa abrir os nossos olhos para Deus e o seu mistério, para o mistério do homem, para o sentido da vi­da, do sofrimento e da morte, do nosso destino individual e coletivo, para o sentido da história.

Renunciar a Cristo significa recair nas trevas mais obscuras. Missal Cotidiano, ©Paulus, 1995

Bilhete de evangelho

A vida é conversão! Aquele que está na verdade vem à luz, diz Jesus a Nicodemos quando o vem encontrar de noite. Esta palavra também nos é dirigida. Fazer uma caminhada de reconciliação é fazer sempre a verdade. Receber o perdão é acolher sempre a luz. Mas antes de fazer esta caminhada, é preciso decidir voltar para Deus. Deus nunca se afastou de nós, não esqueçamos isso. Eis porque, antes de nos confessarmos, devemos confessar (= afirmar com outros) que Deus é Amor. Somos nós que nos afastamos de Deus. Tomamos distância em relação a Deus cada vez em que não amamos ou amamos mal. O pecado é tudo o que é contrário ao amor por Deus e pelos irmãos. Deus espera-nos. Demos-lhe a alegria de nos perdoar. (Dehonianos de Portugal)

Segundo uma crença muito arraigada no AT (cf. Ex 20,5; Ez 18,20; Lc 13,2-4) e acatada pelos rabinos, as doenças e desgraças são castigo de uma vida pecaminosa, seja do próprio indivíduo, seja dos pais. Por isso a pergunta dos discípulos. De modo algum se pensa numa existência anterior e na reencarnação no sentido do espiritismo. A resposta de Jesus não nega de todo alguma ligação entre doença e pecado. Afirma, porém, que não se deve perguntar pela razão, mas pela finalidade, que é a maior glória de Deus. De fato, o milagre que segue, além de curar o cego, devia manifestar Jesus como luz do mundo.


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