terça-feira, 5 de abril de 2011

Itinerário quaresmal

Dom Genival Saraiva, Bispo de Palmares - PE

O período da Quaresma é vivido na Igreja Católica da Quarta feira de Cinzas até a manhã da Quinta Feira Santa, dado que o “Tríduo Pascal começa com a Missa Vespertina de Quinta-Feira Santa, tem o seu momento mais alto na Vigília Pascal e termina com as Vésperas do Domingo da Ressurreição.” Na verdade, este período litúrgico já está dentro do chamado “Ciclo da Páscoa”, como preparação dos fiéis para a celebração da Páscoa do Senhor. Na mensagem divulgada para a Quaresma de 2011, o Papa Bento XVI fala do “itinerário quaresmal” que leva os fiéis à Páscoa da Ressurreição. Itinerário tem sua raiz na palavra latina “iter” que significa “caminho”, “viagem”, “passagem”, “marcha”. Nessa expressão está a ideia de ser a Quaresma um período que mobiliza os cristãos, pondo-os em ação e mudança; consequentemente, o tempo quaresmal desinstala os fiéis de sua comodidade, indiferença, apatia, omissão, diante de seus deveres para com Deus e de suas obrigações familiares e sociais. Trata-se, claramente, do caminho espiritual, moral, ético e social a ser percorrido pelos cristãos. Para seguirem esse caminho, as pessoas impõem-se exigências que vão da conversão, na sua expressão mais radical, até o nível mais elevado do aperfeiçoamento humano e, nesse seu esforço, contam com a graça de Deus.

O itinerário quaresmal, a que se refere o Papa, segue a Liturgia do Ano A. “O primeiro domingo do itinerário quaresmal evidencia a nossa condição dos homens nesta terra. O combate vitorioso contra as tentações, que dá início à missão de Jesus, é um convite a tomar consciência da própria fragilidade para acolher a Graça que liberta do pecado e infunde nova força em Cristo, caminho, verdade e vida”. No segundo domingo, ao proclamar o texto da Transfiguração do Senhor, no Evangelho de Mateus, a Igreja “põe diante dos nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização do homem. (...) É o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus: Ele quer transmitir-nos, todos os dias, uma Palavra que penetra nas profundezas do nosso espírito, onde discerne o bem e o mal (cf. Hb 4, 12) e reforça a vontade de seguir o Senhor.” Na liturgia do terceiro domingo, “O pedido de Jesus à Samaritana: ‘Dá-Me de beber’(Jo 4, 7) (...) exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da ‘água a jorrar para a vida eterna’ (...) Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, ‘enquanto não repousar em Deus’ segundo as célebres palavras de Santo Agostinho.” Na celebração do quarto domingo, o Evangelho do “cego de nascença” apresenta Jesus que “quer abrir o nosso olhar interior, para que a nossa fé se torne cada vez mais profunda e possamos reconhecer n’Ele o nosso único Salvador. Ele ilumina todas as obscuridades da vida e leva o homem a viver como ‘filho da luz’.” No quinto domingo, o Evangelho da ressurreição de Lázaro, segundo as palavras do Papa, coloca as pessoas “diante do último mistério da nossa existência: ‘Eu sou a ressurreição e a vida... Crês tu isto?’ (...) A fé na ressurreição dos mortos e a esperança da vida eterna abrem o nosso olhar para o sentido derradeiro da nossa existência: Deus criou o homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade doa a dimensão autêntica e definitiva à história dos homens, à sua existência pessoal e ao seu viver social, à cultura, à política, à economia. Privado da luz da fé todo o universo acaba por se fechar num sepulcro sem futuro, sem esperança.”

O itinerário quaresmal deve ser trilhado pelos cristãos, segundo essa proposta celebrativa e catequética da Igreja, para seu proveito pessoal e seu testemunho comunitário.

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